Para entendermos a melhor a questão do etnocentrismo, o que leva muitos a pensar que as etnias europeias e norte americanas são superiores à brasileira, precisamos entender a constituição do eurocentrismo. No final do século XIX e início do século XX, em plena era da expansão colonialista dos países industrializados, a conquista por territórios teve como principal objetivo a busca de matérias-primas e ampliação de mercados para as mercadorias produzidas e os excedentes de capital. Segundo Bruit (1994, p.05)
"Entre 1870 e 1914 a Europa e os Estados Unidos arquitetaram a conquista política, econômica e cultural da África, Ásia, Oceania e América Latina. Repartiram o mundo entre si e organizaram poderosos impérios coloniais que só tinham em comum o desenvolvimento da acumulação capitalista."
Ao longo da segunda metade do século XIX, as principais potências capitalistas consolidaram seu domínio com um amplo movimento de conquista militar e econômica, promovendo uma divisão geopolítica dos continentes africano e asiático. Esses países desenvolveram uma economia internacional baseada na concorrência de mercados, na ampliação do consumo e no aumento de investimento em capitais, fortalecidos por ideologias nacionalistas. Paralelamente intensificou-se a produção armamentista, considerada estratégica para garantir a colonização e dominação.
Outro aspecto importante desse contexto é que as indústrias conquistaram rapidamente os mercados de muitos países latino-americanos, causando, nesses últimos, uma dependência econômica típica do imperialismo. A industrialização permitiu um grande enriquecimento dos países europeus e, consequentemente, uma melhora das condições de vida da população, que passou a incorporar os padrões de consumo burguês-capitalista (HOBSBAWM, 2001)
Nesse contexto político-econômico, estabeleceu-se um posicionamento etnocêntrico por parte das nações europeias, na medida em que intensificaram a imposição de sua cultura. A Europa, considerada "berço" da civilização ocidental, difundiu os valores da cultura burguesa capitalista sobre os demais territórios do globo, fortalecendo seus mecanismos de dominação. No Brasil, por exemplo, a chegada da família real em 1808 reforça ainda mais a introdução dos costumes europeus nas maiores cidades do país, começando pelo Rio de Janeiro, transformada em capital da província.
Adendo:
"A incorporação de tão diversas e heterogêneas histórias culturais a um único mundo dominado pela Europa, significou para esse mundo uma configuração cultural, intelectual, em suma inter subjetiva equivalente à articulação de todas as formas de controle do trabalho em torno do capital, para estabelecer o capitalismo mundial. Com efeito, todas as experiências históricas, histórias, recursos e produtos culturais terminaram também articulados numa só ordem cultural global em torno da hegemonia europeia ou ocidental. Em outras palavras como parte do novo padrão de poder mundial, a Europa também concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de controle da subjetividade, da cultura, e em especial do conhecimento, da produção do conhecimento" (QUIJANO, 2005. p. 227-278)
Referências:
BRUIT, Héctor Hernán. O imperialismo. 14 ed. São Paulo: Atual, 1994.
HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789 - 1848. 15 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
(QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrico e América Latina. In LANDER, E. (Org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 227-228).