sábado, 31 de dezembro de 2016

Ano novo, renovação!


É muito comum em toda a virada de ano haver discursos de mudança e de renovação, como é de senso comum, neste não poderia ser diferente.

As declarações giram em torno de um mundo melhor e, principalmente, uma auto-renovação enquanto pessoa, uma autocrítica do ano que termina, para assim nortear as ações do ano que está para vir, no sentido de melhorá-las e não cometer os mesmos erros.

No entanto, na correria do dia-a-dia não é percebido que a renovação de nós para com nós mesmos é feita diariamente, a cada momento, a cada atitude e a cada interação humana. Neste sentido, não é necessário esperar o ano acabar para rever as posições/atitudes.

A mensagem de fim de ano, que transmito, e espero que todos possam se permitir à viver e a refletir, é que podemos e devemos fazer autorreflexão o tempo todo. Pois, cada instante é oportunidade de rever conceitos e melhorar... Que nos permitamos a ter novas experiências, desde que nos dignifiquem.

Que em 2017 todos possam por em prática suas reflexões e fazê-las continuamente para seremos melhores seres humanos, consigo e para com os outros.

Feliz e próspero 2017 à tod@s!

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Em nome da Ética

Percebemos facilmente que no Brasil, de modo generalizado, as pessoas tem péssima qualidade em abstração nas ciências humanas! Embora muitas pessoas queiram mostrar-se como baluartes da moral e da ética.
A qualidade de abstração de humanas é pior do que em física, química e exatas em geral, porque bem ou mal, elas caem no vestibular, então as pessoas aprendem (ou memorizam) duas ou três coisas. Então, salvam-se. Não que humanas não estejam no vestibular, mas é de consenso que o que define a aprovação nele são as exatas.

Na hora de investigar o que as pessoas tem a dizer sobre questões de abstração, afinadas à questão moral, não percebemos muita qualidade filosófica. A ética é reflexão sobre a vida, é pensamento, é só sair na rua ou observar o senso comum que percebemos a incapacidade de compreensão apurada, filosófica, que é necessária a este debate.
Fala-se da importância da ética por todo lugar. Mas, lamentavelmente quem fala em nome dela não percebe que a ética pressupõe competência reflexiva, pressupõe repertório, pressupõe domínio de certos princípios que são da esfera do pensamento, da formação escolar e intelectual. Não adianta tampar o sol com a peneira. (Reflexão adaptada/embasada no curso de Ética do Dr. Clóvis de Barros Filho)

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

"Corrente Orkutiana" — uma análise


Ontem participei de uma "corrente orkutiana", algumas pessoas participaram. A mesma consistia em oito respostas que seriam dadas que envolvessem a pessoa que comentasse qualquer coisa na publicação original. As respostas que envolviam:


- Primeira Impressão;
- Forma que conheci;
- Apelido que chamo;
- Nível de Proximidade (0 à 10);
- Se eu gosto da pessoa;
- Você é meu ou minha;
- Uma afirmativa sincera sobre;


Vista de um ponto de vista mais crítico é uma corrente sem sentido. Particularmente não gosto de correntes de quaisquer natureza — embora algumas eu participe. Explico, penso que correntes similares a esta são sem sentido porque as proposições trazem respostas subjetivas, algumas subjetivas demais. Não há um critério de análise e verificação das respostas, tampouco um parâmetro para concebê-las. Mas, do ponto de vista de brincadeira é divertida. 

São várias primeiras impressões que temos de uma pessoa, é difícil escolher uma e resumir num comentário. Se você conhece alguém há muito tempo dificulta ainda mais, porque a memória humana é falível. 

A forma de conhecer alguém não é de fácil memorização, afinal você ter visto a pessoa antes mesmo de conversar com ela, ter dialogado com ela antes mesmo de conhecer de fato. Neste caso é selecionado o momento mais significativo que é lembrado no passado e trazido à tona. O que para o outro pode ser diferente, subjetivo.

Como mensurar o nível de proximidade? está é uma característica chave de subjetividade, numa escala de zero à dez deve-se dizer qual é o nível de proximidade que a pessoa tem consigo. Entretanto, a corrente não prevê os parâmetros de análise e pontuação para acrescer e/ou descontar pontos. É uma forma extremamente subjetiva, às vezes impossível, de resumir a presença/participação de uma pessoa em sua vida em uma escala de dez pontos sem nenhum critério de análise. Resposta que talvez não será justa.

Se você gosta ou não... novamente temos uma definição arbitrária que é o gostar. Pode ser que tem coisas que você desgosta em uma pessoa e outras aprecie, no geral você vai resumir ao ponto que mais tender, de acordo com sua subjetividade.

Então, há um ponto de sinceridade. Pois bem, aí cabe à quem participa ser objetivo e sincero. 


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Posturas Pedagógicas no Ensino

Em meio a polêmica do "Escola sem Partido" parece ser de extrema importância para que as pessoas de modo geral tenham acesso de como se dá o processo de ensino-aprendizagem, conhecer as formas de perceber a educação e atuação no ensino. Essas formas se dão através de tendências pedagógicas. 

O termo pedagogia de acordo com o dicionário Michaelis pode ser entendida como o estudo teórico ou prático das questões da educação, bem como o conjunto das ideias de um educador prático ou teorista em educação.

É neste contexto que este texto irá abordar de maneira breve e diferenciar as tendências pedagógicas na prática e na teoria da educação. Tendências que serão diferenciadas entre Liberais: tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva, e tecnicista. Progressistas: libertadora, libertária, e crítico social dos conteúdos.


Parece ser consenso entre os pesquisadores/educadores das ciências relacionadas a educação a respeito da diversidade de posturas na qual professores utilizam para o ensino, bem como linhas de posicionamentos pedagógicos, nos parágrafos a seguir, será apresentado as tendências pedagógicas bem como suas características, de acordo com a visão do Doutor em Educação José Carlos Libâneo.

Para Libâneo (1990) existem as abordagens liberais e progressistas. A pedagogia liberal — de acordo com o autor — sinaliza a finalidade da escola como formadora de alunos aptos a exercerem seu papel social, enfatizando um ensino não crítico. Mesmo que a escola difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta e desigualdade de condições. Nesta pedagogia, o aluno era incentivado por meio de castigos, de prêmios, além da denúncia.

Para Saviani (2010) à educação cumpre moldar a existência particular e real de cada educando à essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. A tendência liberal atribui à escola a função de transmitir os saberes que a sociedade considera importantes para a manutenção da ordem e do progresso, atribuindo a educação, o papel de ajustamento social.

Dentro da pedagogia liberal encontramos a tendência Tradicional que afirma a preparação dos alunos para exercerem seus papéis na sociedade, conteúdos são abordados para formar moral e intelectualmente o aluno, de forma desvinculada da realidade, pois problemas sociais não devem penetrar na escola. A aprendizagem se dá através da transmissão de conteúdo e conhecimento historicamente acumulado pela humanidade, onde os mesmos são memorizados. A avaliação é individualizada, todos os alunos devem seguir o ritmo do professor.

Seguindo a abordagem liberal encontramos a tendência Liberal Renovada Progressivista, ou Escola Nova, que dá ênfase no ensino no “ensinar bem”, mesmo que seja a uma minoria. Também segue a ideia que a escola deve ser um parâmetro para desenvolvimento de aptidões individuais. Uma característica marcante é a valorização da criança, vista como um ser dotado de poderes individuais, cuja a liberdade, iniciativa, autonomia e interesses devem ser respeitados. Nessa visão o professor conduz o aluno a um trabalho independente.

A tendência Liberal Renovada não Diretiva fundamentada por Carl Rogers, propõe um ensino com base na autonomia do aluno em aprender, onde o papel do professor é ser um facilitador para a chegada do aluno ao saber. O ensino deve focar-se na relação às experiências do aluno, onde as técnicas audiovisuais, didáticas, recursos, meio e mídia... não tem importância. Cabe ao professor criar situações-problema para despertar o interesse do aluno, valorizando-se a auto-avaliação, autodescoberta e autodeterminação, onde o professor deve ser um especialista em relações humanas. Colocando assim o aluno no centro do ensino e aprendizagem.

Na abordagem Liberal Tecnicista, baseada na neutralidade científica, o trabalho pedagógico deve ser parcelado com a especialização das funções, propiciando a introdução no sistema de ensino técnico. A sua meta consiste em formar alunos competentes para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente informações precisas, objetivas e rápidas. Ocorre a ênfase na individualização do ensino, através de técnicas específicas, como a instrução programada.

Já visto um resumo das abordagens liberais, veremos agora a abordagem Progressita. As tendências progressistas partem de uma análise crítica da realidade e tem como o eixo central o contexto sócio-político-econômico-cultural da sociedade. 

A tendência Progressista Libertária afirma a escola como algo que exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e auto gestionário. Neste contexto, as matérias são disponibilizadas aos alunos, mas não exigidas. Cabendo o aluno a decidir sua participação na aula ou não. O professor faz sua interação com o grupo, participando das discussões, é considerado superior ao aluno, em termos de conhecimento. Mas, a relação não é vertical.

A tendência Progressista Libertadora inicia-se na década de 1960, através dos movimentos da educação popular, sendo intensificada em 1980. Visão que possibilita ao aluno uma leitura mais crítica e transformadora. A relação professor e aluno não é imposta, mas horizontal. O professor, segundo Mizukami (2002, p. 99) “o professor procurará criar condições para que, juntamente com os alunos a consciência ingênua seja superada e que estes possam perceber as contradições da sociedade e grupos em que vivem”. É enfatizado o diálogo no ensino.

A tendência Progressista Histórico-Crítica visa a conscientização da determinação exercida pela sociedade sobre a educação, demonstrando assim seu caráter crítico, afirma que a educação interfere sobre a sociedade, podendo contribuir para sua própria transformação. É de responsabilidade da escola a difusão do conhecimento histórico e socialmente produzido, contribuindo para a transformação social. Esta visão direciona o processo de ensino para as finalidades pedagógicas, políticas e sociais. A aprendizagem deve partir do que o aluno já sabe e proporcionar o caminho para a síntese.

Parece plausível afirmar que cada indivíduo se sentirá mais familiarizado com uma ou outra abordagem pedagógica. O filósofo Paulo Freire afirma que toda a educação atende a interesses políticos, sendo assim, o ato de optar por uma tendência pedagógica indica os interesses do professor em sua visão de ensino. Entretanto, cabe ao professor ter o compromisso ético de manter a escola um ambiente democrático, onde as ideias possam ser debatidas. Não há problema no fato do indivíduo optar por uma visão de ensino, desde que o mesmo respeite a pluralidade. O debate não deve ser impedido e a apresentação das formas de pensamento de cada tendência. Assim, tendo em vista a pluralidade de ideias cabe ao professor decidir em qual tendência se encontra, desde que haja compromisso com a ética.

REFERÊNCIAS
MICHAELIS. Dicionário de Português online. Disponível em: < http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=pedagogia> Acesso em: 25 mai. 2016

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo: Loyola, 1990.

VALUGA, Edilaine. Didática. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014

SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 3.ed. Campinas: Autores Associados, 2010.

MISUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 2002.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Desenvolvimento humano

É notável que o nós nos desenvolvemos e enfrentamos mudanças com o passar do tempo. O processo de desenvolvimento é vitalício e ocorre durante toda a vida do sujeito. Aliás, é preciso ficar claro que o "tempo" não causa nem determina o desenvolvimento. Ele apenas refere-se tão somente ao intervalo em que as mudanças ocorrem.
As mudanças estão relacionadas a qualquer alteração, modificação ou diferenciação na função ou no grau (intensidade, frequência) de um fenômeno ou processo no organismo do indivíduo.
Portanto, o desenvolvimento humano está sujeito tanto às condições e ocorrências históricas, sociais, culturais e contextuais de cada indivíduo, quanto às condições orgânicas, genéticas e hereditárias da pessoa.
Não podemos abordar estas questões de maneira simples, porque elas não são. Pois, "na ciência, quando o comportamento humano entra na equação, as coisas tornam-se não-lineares. É por isso que Física é fácil e Sociologia é difícil", de acordo com o astrofísico Neil deGrasse Tyson.

domingo, 19 de junho de 2016

Análise da música "Man in the mirror" de Michael Jackson



Quando discursos desumanos e de ódio estão em voga, a autocrítica é necessária. A análise da música Man in the Mirror de Michael Jackson é muito pertinente para observarmos o mensagem que ela transmite.





Man in the Mirror (letra original) / Homem no Espelho

[1] Eu vou fazer uma mudança
De uma vez em minha vida
Vai fazer muito bem
Vou fazer uma diferença
Vou fazer isso direito

[2] Enquanto eu dobro a gola
Do meu casaco de inverno favorito
Este vento está golpeando minha mente
Eu vejo as crianças nas ruas
Sem o suficiente para comer
Quem sou eu para estar cego
Fingindo não perceber suas necessidades?

[3] Um verão ignorado
Um gargalo de garrafa quebrada
E a alma de um homem
Eles seguem uns aos outros no vento, você sabe
Porque eles não tem pra onde ir
É por isto que eu quero que você saiba

[4] Eu estou começando com o homem no espelho
Estou lhe pedindo que mude suas maneiras
E nenhuma mensagem poderia ser mais clara:
Se você quer fazer do mundo um lugar melhor
Olhe para si mesmo e faça essa mudança
Eu tenho sido vítima de um tipo de amor egoísta
Está na hora de eu compreender
Que tem gente em casa
Sem nenhum centavo para emprestar

[5] Eu seria eu mesmo
Se fingisse que eles não estão sozinhos?
Um salgueiro profundamente arranhado
Alguém com o coração partido
E um sonho deixado para trás
Eles seguem o rumo do vento, você vê
Porque eles não tem lugar pra ficar
É por isso que estou começando comigo

[6] Eu estou começando com o homem no espelho (oh!)
Estou lhe pedindo que mude suas maneiras (oh!)
E nenhuma mensagem poderia ser mais clara:
Se você quer fazer do mundo um lugar melhor
Olhe para si mesmo e faça essa mudança

[7] Eu estou começando com o homem no espelho (oh!)
Estou lhe pedindo que mude suas maneiras (oh!)
E nenhuma mensagem poderia ser mais clara
Se você quer fazer do mundo um lugar melhor
Olhe para si mesmo e faça essa mudança

[8] Eu estou começando com o homem no espelho
(Homem no espelho - oh, sim!)
Estou lhe pedindo que mude seus modos (é melhor mudar!)
E nenhuma mensagem poderia ser mais clara
(Se você quer fazer do mundo um lugar melhor)
(Olhe para si mesmo e faça a mudança)

[9] (Você tem de fazer o bem, enquanto tem tempo)
(Porque quando você fecha seu coração)
(Você não pode fechar sua, sua mente!)
(Então você fecha sua mente!)

[10] Aquele homem, aquele homem, aquele homem
Com o homem no espelho
(Homem do espelho, oh, sim!)
Aquele homem, aquele homem, aquele homem
Estou lhe exigindo que mude seus modos (é melhor mudar!)
Você sabe aquele homem
E nenhuma mensagem poderia ter sido mais clara:
Se você quer fazer do mundo um lugar melhor
Olhe para si mesmo e faça essa mudança

[11] Eu vou fazer essa mudança
Vai fazer muito bem!
Vamos! (mude)
Apenas levante-se, você sabe
Você tem que parar com isso, você mesmo!
(Sim! Faça essa mudança!)

[12] Eu vou fazer essa mudança, hoje!
(Homem no espelho)
Você não pode abandonar a si mesmo, irmão!
(Sim! - faça a mudança!)
Você sabe, eu preciso compreender
Aquele homem, aquele homem (homem no espelho)
Você precisa, você precisa se mexer!

[13] Vamos! Vamos! você tem de
Levantar-se! Levantar-se! levantar-se!
(Sim! - faça aquela mudança)
Levante-se e ajude a si mesmo, agora!
(Homem no espelho)
(Sim! Faça essa mudança!)
Vou fazer essa mudança
Vamos! (homem no espelho)
Você sabe! Você sabe como!
Você sabe! Você sabe como!
(Mude) faça aquela mudança

A análise

A análise é necessária e deve ser compartilhada para que seja percebida a mensagem crítica feita por Michael Jackson nesta excelente música. Talvez nem análise precisaria tendo em vista que ele próprio diz: "e nenhuma mensagem poderia ser mais clara" [4].  Porém, muitos estão fechados a compreender a crítica feita por ele. 

No início da composição percebemos que o eu-lírico de Michael Jackson afirma que vai fazer uma mudança em sua vida, e que pretende fazer ela muito bem, é uma música que volta-se ao indivíduo, o eu-lírico, mas nem por isso ele deixa de pensar no coletivo, o social, como veremos adiante. [1] 

O eu-lírico dobra a gola do casaco de inverno favorito ao mesmo tempo em que vê crianças na rua sem nem ter o suficiente para se alimentar. Diante disso ele é tomado por uma reflexão existencial. Então ele se pergunta quem ele é para ser cego (no sentido de alienação) e fingir não perceber as necessidades das crianças? a menção que ele faz às crianças é proposital pois é mais fácil a sensibilização com elas, já que por muitas vezes negamos a humanidade dos outros. [2] 

É percebido por ele o que ignorou todo o verão, as outras pessoas. Depois ele percebe a existência dos outros e que estes também tem necessidades, assim como ele próprio. Um gargalo de garrafa quebrada faz uma menção aos mendigos que também tem suas almas quebradas devido a humanidade que lhes foi rejeitada. Pessoas estas que seguem uns aos outros no vento da análise de sua situação pois eles não tem para onde ir, é feita questão de versar que você sabe disso. [3] 

O eu-lírico começa algo com alguém que está na frente do espelho, ele pede a esta que mude suas maneiras, pede para que o homem do espelho mude sua percepção limitada do mundo. Para que abandone a postura desumana. A mensagem dele não poderia ser mais clara e objetiva, é uma autocrítica. Se você quer fazer do mundo um lugar melhor deve antes de tudo fazer autocrítica e mudar a si mesmo, mudar o que está de errado consigo, abandonar a desumanidade, a hipocrisia, o ódio, o preconceito... etc. Então o eu-lírico fala que identificou seu problema, ele está sendo vítima de um amor egoísta. [4] 

Seria o eu-lírico ele mesmo se ele fingisse para si mesmo que as pessoas que estão em condições desumanas não estão sozinhas? Pois, os desumanizados estão numa luta sozinhos para sair desta condição porque muitas vezes preconceito daqueles que acreditam serem humanizados dificultam a luta deles pela sua humanização. Como apontado na música, ao negar a humanidade do outro é negar também a si próprio. Há pessoas com o coração partido por terem sua humanidade negada, eles seguem o rumo do vento na análise de sua situação e ansiando pela sua superação, você vê isso. Por isso o eu-lírico começa por ele, já que ele tem onde ficar por que negar/ignorar os que não tem? [5] 

É apresentado então o refrão pelo eu-lírico remetendo a autocrítica. Neste não irei fazer análise pois ele é claro, ao mesmo tempo ele convida você para olhar para si mesmo e fazer a mudança. [6/7] 

Continuando as menções à autocrítica, o eu-lírico pede para que você mude seus modos. É melhor mudar do que permanecer com modos desumanos (negar a humanidade dos outros, e pior de tudo pensar que os oprimidos são os culpados de sua opressão). [8] 

Você deve fazer o bem quando ainda tem tempo, pois enquanto você fecha seu coração (no sentido de humanidade) você não consegue barrar a razão (mente) que lhe indica a humanidade. Então, para manter a postura incoerente é necessário abdicar da razão. Ao fazer isso torna-se desumano aquele que nega a humanidade dos desumanizados. Percebemos então, que na lógica egoísta não há humanidade nem para o oprimido tampouco ao opressor. [9]

O eu-lírico exige do homem que está na frente do espelho que mude os seus modos através da autocrítica, novamente o refrão [10]. Para o eu-lírico a mudança vai fazer muito bem a ele, é necessário parar com pensamento/atitudes desumanas. [11]

O homem do espelho versa que vai fazer a mudança ainda hoje. O eu-lírico fala ao homem do espelho que ele deve fazer a mudança, a humanidade não pode ser abandonada, nem a si mesmo com a desumanização. Várias vezes é remetida a ideia de que a mudança é urgente devido a forma que a estrofe ocorre. [12]

Sim, então mude. O que você está esperando para fazer autocrítica? [13]

Considerações

Uma letra objetiva que nem sequer precisaria ser analisada. Entretanto, muitas pessoas já estão cegadas, conforme a música versa, e fecharam seu coração e mente para manter esta postura livre de crítica e autocrítica. A composição nos instiga a perceber o que não queremos mais ver. Aliada a música ao videoclipe é reforçada a clareza da mensagem que é apresentada, é uma opção pela humanização que é extremamente necessária nesta sociedade consumista/individualista/egoísta.

PS. A letra da música me lembram o filósofo Jean-Paul Sartre e o filósofo Paulo Freire.



terça-feira, 7 de junho de 2016

A existência


Aqui consta duas pequenas reflexões, a primeira só trará perguntas e não respostas. A segunda, apenas apontará a um pensamento reflexivo sobre nossa concepção do mundo, de maneira existencialista. A vinculação da imagem de Matrix não é apenas coincidência, aliás, a trilogia Matrix levanta questões filosóficas muito pertinentes.


JORNADA EXISTENCIAL

Parece-me correto afirmar que o ser humano, conforme exista, acumula experiências que marcam sua jornada existencial e influencia diretamente na sua formação moral/ética.

Se somos produtos de nossas experiências — sejam de qual natureza for; Social, Psíquica, Biológica... etc. Então nosso julgamento de bom e mau, certo e errado e etc... juntamente do abstração sobre a própria existência e o convívio social faz parte necessária destas experiências, específicas já vividas? Se tivéssemos experiências totalmente diferentes, nosso modo de perceber/ponderar/julgar o mundo seria radicalmente alterado?

Em qual ponto das formas do ser humano perceber sua existência são realmente próprias, abstraídas ou simplesmente reproduzidas, de forma alienada? E afinal, o que é consciência?


CONTINUIDADE DE PROGRAMA

Estamos tão acostumados com a ideia de viver numa continuidade de programa, alienados, que quase nunca percebemos os detalhes e a graciosidade da vida. Parece que em nossa arrogância, nós humanos, ignoramos toda a natureza ao nosso redor, a ponto de não apreciar o belo voo de uma borboleta, por exemplo. Parece que somos convencidos a conceber o mundo unicamente através da lógica consumista, assim alimentando um pensamento que nos faz esquecer que não somos únicos, tampouco superiores a nenhuma outra espécie, apenas temos sorte de poder refletir sobre a existência, nesta jornada evolutiva.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

A Opinião Pública

Afinal, o que é "Opinião Pública"? aquela que as mídias e afins anunciam os resultados de pesquisa em opinião pública sobre determinados assuntos. Os institutos que são conhecidos no Brasil e fazem pesquisas neste sentido são o Ibope, Data Folha, IBGE... etc. Cujo partem da ideia de que a opinião pública é a somatória de opiniões individuais sobre temas por eles mesmos aferidos. Para Bourdieu este tipo de opinião não existe. 

Um ponto que tem que ser esclarecido é a definição de opinião, e a diferença para a opinião que é pública. Ex: a aula foi ruim; a comida está apetitosa, etc... — A especificidade da opinião pública em relação a simples opinião é que, a opinião pública terá por objeto temas que digam respeito a toda a cidade, toda a “polis”, temas “políticos” por tanto. 

Um dos principais requisitos para que um objeto seja tido como público hoje: ele deve estar presente nas pautas dos meios de comunicação. A agenda dos meios determina a agenda pública. A opinião pública, para ser pública, terá que ter um tema presente nos meios de comunicação de massa. O valor atribuído ao objeto da opinião pública é atribuído por um grupo, ou seja, é um valor coletivo e compartilhado por um grupo de pessoas. 

A mídia, principalmente a grande mídia — monopolizada na maioria das vezes — é aquela que "dita" os assuntos de interesse público, percebemos isso nos jargões proferidos em jornais, programas televisivos e etc. (notícia/reportagem de interesse público), normalmente a população não observa essas relações de um ponto de reflexão filosófica, por fim acredita que ela é "imparcial". É muito difícil haver imparcialidade na mídia com relação à opinião pública, pois para fazer parte da pauta da mídia ela deve passar por um filtro e pelo interesse dos que vão divulgar ela.  

A "opinião pública", para ser entendida como somatória de opiniões individuais, como mostrada pelos institutos de pesquisa e mídias afins, parte de algumas premissas: 
  1. Seria preciso que todos tivessem opiniões individuais sobre os temas da agenda pública, o que não é o caso, pois nem sempre há opinião individual sobre os temas próprios da opinião pública.
  2. Além disso, seria preciso que houvesse uma referência para que seja feita a comparação – Um critério a partir do qual julgar.
  3. Seria preciso que elas fossem “somáveis”, e só são somáveis unidades da mesma espécie. Ou seja, as opiniões individuais teriam que ser equivalentes para poderem ser somadas. O que não pode ser feito, já que cada indivíduo tem suas características específicas, diferentes legitimidades sobre o assunto, experiências diferentes, formações diferentes, especialidades diferentes, etc. 
  4. Os temas objeto de pesquisa teriam que ser os temas mais relevantes, mais importantes para os indivíduos da sociedade. Perguntar sobre determinados temas é pressupor um acordo social sobre a importância desses temas, o que está longe de corresponder à verdade.
Então, concluimos que: a definição de opinião pública como simples somatória das opiniões individuais, é uma definição que não convém. Já que a opinião pública NÃO é a somatória das opiniões individuais, partindo das teses de que: 1º) A opinião pública é lógica e cronologicamente anterior às opiniões individuais; 2º A opinião pública é condição das opiniões individuais; 3º Fazer acreditar que a opinião pública seja a somatória das opiniões individuais interessa a “alguém”, pois esconde instancias de poder e protege aqueles que conseguem interferir nos caminhos da opinião pública.
A opinião pública é lógica e cronologicamente anterior às opiniões individuais: Segundo Durkheim, “a sociedade é lógica e cronologicamente anterior aos indivíduos que a compõem”. Quando o "homem" surge na evolução da espécie, ele já vivia em sociedade, assim como as etapas anteriores ao homem nesse processo também já viviam em sociedade. Ou seja, a evolução do homem se deu em sociedade — assim como a sociedade precede o indivíduo. A opinião pública precede a opinião individual, pois os indivíduos nascem em contextos onde as opiniões públicas já estão amplamente consolidadas.

Fazer acreditar que a opinião pública seja a somatória das opiniões individuais interessa a aqueles que estão por trás da construção efetiva das opiniões dominantes sobre os temas políticos. O que Bakhtin propõe em sua obra “Marxismo e filosofia da linguagem”: a consciência tem como matéria prima signos, as palavras são um tipo de signo. Esta por sua vez, é povoada de palavras, as palavras constituem a consciência, mas ela é dinâmica e pressupõe a articulação permanente entre essas palavras. Cada palavra possui um significado. A consciência é construída dentro de um pertencimento na sociedade, de fora pra dentro. É a sociedade que oferece as condições materiais para articular a matéria prima semiótica que o indivíduo usa para falar. É a sociedade que propõe o significado das palavras que os indivíduos utilizam. Bakhtin afirma que todo o signo é ideológico. O significado das palavras é resultado da construção social de agentes em conflito, que querem que as palavras digam coisas diferentes do que elas querem dizer para seus adversários. Existe uma luta social pela definição do que devemos entender sobre as palavras. O significado das palavras é um troféu em disputa. Se a consciência é povoada por signos em articulação, e esses signos em articulação só se articulam em função de significados em circulação na polifonia social, é evidente que um indivíduo só consegue propor uma opinião individual se tiver sido devidamente abastecido por uma matéria prima semiótica que lhe é dada pela polifonia na qual ele está inserido.

Temos então, neste caso uma opinião pública que precede o indivíduo e a cada momento sócio-histórico temos um foco diferente. A grande mídia determina de acordo com seus interesses a opinião pública, interesses que podem ser desde a simples audiência ou até mesmo interesses políticos. Quando nós nos deparamos com o "opinião pública" devemos redobrar nosso ceticismo e refletir filosoficamente sobre os objetivos, interesses e consequências da "opinião pública", e sobretudo questionar a origem e os interesses da pauta pública e quem tornou ela "pública.

Referências: Curso de Ciência Política, de Clóvis de Barros Filho.

domingo, 1 de maio de 2016

Dia do Trabalhador

O desejo dos intelectuais, os progressistas e humanistas ao menos, e das classes trabalhadoras, não é o de manutenção da sociedade atual, mas sim de sua superação! 


A visão demagógica do trabalho que nos é apresentada pela sociedade capitalista ou consumista (em sua organização econômica/social) não contribui de fato para a dignificação do trabalho humano. Por isso, devemos superar. Afinal, o principal objetivo do capitalista perante o trabalho, principalmente do trabalho dos outros, é o lucro e não o bem estar humano. Embora busca pelo lucro possa gerar indiretamente bem estar humano (dos que podem consumir), seu objetivo último é o lucro. 

Do gari ao médico, ambos são trabalhos dignos, que na visão humanista devem ser valorizados de maneira igual. A sociedade capitalista nos induz à pensar que o status do segundo é superior ao do primeiro, pois segundo os capitalistas, o doutor passou anos estudando e o lixeiro não merece ser igual ao primeiro porque não teve mérito para tal. Mas, como pesar na balança a igualdade de pessoas que iniciaram sua jornada de modo desigual? 

Alegam que a contribuição do médico é superior ao do gari, que só cata lixo, enquanto o outro salva vidas. Mas, paremos para pensar na função de ambos. Se ninguém recolhe o lixo das ruas, a sujeira acumulada pode proliferar doenças, observamos a idade média, onde muitas doenças haviam de fato ao lixo acumulado. Nesta perspectiva, o gari contribui na prevenção, enquanto o médico no tratamento. Ambos são trabalhos dignos e essenciais , porque temos que desmerecer um perante o outro? 

O trabalho é digno, todo o trabalho dignifica o homem, devemos encontrar um meio de alterar nossa percepção da relação do trabalho na sociedade, tanto na teoria, quanto na prática.

O Dia do Trabalhador, deve ser utilizado para a conscientização e humanização da humanidade. E não apenas de reprodução da demagogia capitalista perante o trabalho!

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A neutralidade da mídia e televisão


Estamos constantemente sendo bombardeados por informações, comunicados e notícias da mídia, da televisão e agora na internet. As grandes mídias passaram a também utilizar a internet como meio de propagação de seu material. O que vem a seguir é algo muito pertinente sobre o assunto que estamos vivenciando.


“Não temo parecer ingênuo ao insistir que não ser possível pensar sequer em televisão sem ter em mente a questão da consciência crítica. É pensar em televisão ou na mídia em geral nos põe o problema da comunicação, processo impossível de ser neutro. Na verdade, toda a comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo e contra alguém, nem sempre claramente referido. Daí também o papel apurado que joga a ideologia na comunicação, no processo comunicativo. Seria uma santa ingenuidade esperar de uma emissora de televisão do grupo do poder dominante que, noticiando uma greve de metalúrgicos, dissesse que seu comentário se funda nos interesses patronais. Pelo contrário, seu discurso se esforçaria para convencer que sua análise da greve leva em consideração os interesses da nação.

Não podemos nos pôr diante de um aparelho de televisão “entregues” ou “disponíveis” ao que vier. Quanto mais nos sentamos diante da televisão — há situações de exceção, como quem, em férias, se abre ao puro repouso e entretenimento — tanto mais risco corremos de tropeçar na compreensão de fatos e de acontecimentos. A postura crítica e desperta nos momentos necessários não pode faltar.

O poder dominante, entre muitas, leva mais uma vantagem sobre nós. É que, para enfrentar o ardil ideológico de que se acha envolvida a sua mensagem na mídia, seja nos noticiários, nos comentários aos acontecimentos ou na linha de certos programas, para não falar na propaganda comercial, nossa mente ou nossa curiosidade teria de funcionar epistemologicamente todo o tempo. E isso não é fácil.

Mas, se não é fácil estar permanentemente em estado de alerta, é possível saber que, não sendo um demônio que nos espreita para nos esmagar, o televisor diante do qual nos achamos não é tampouco um instrumento que nos salva. Talvez seja melhor contar de um a dez antes de fazer a afirmação categórica que Wright Mills¹ se refere: “É verdade. Eu ouvi no noticiário das vinte horas”.

¹Wright Mills, La elite del poder. México: Fondo de Cultura Económica, 1945.

Extraído na Íntegra de:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 51ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Consciência crítica e tipos de conhecimento

A palavra consciência, de acordo com o dicionário Michaelis é a capacidade que o homem tem de conhecer valores e mandamentos morais e aplicá-los nas diferentes situações. Mas, afinal o que é consciência? e quais são os tipos de conhecimento que o ser humano pode desenvolver?

Desde que passamos a questionarmo-nos acerca do mundo e do que presenciamos nele, a ciência, em especial a filosofia, estudam e tentam compreender a ação da consciência sobre nosso corpo e mente. Esse esforço reuniu as ciências, como psicologia, antropologia, sociologia e neuropsicologia, para uma sistematização teórica do tema. 

A filosofia, ao investigar a realidade através da construção de conhecimento mais autêntico, faz isso por uma dimensão que podemos chamar de consciência. Por esta consciência nós formamos nossa visão de mundo, sociedade e de nós mesmos. A consciência abrange a dimensão da mente humana (individual) mas não só do individuo isolado, mas também do social (consciência coletiva).

Comumente somos levados a relacionar a consciência apenas como a capacidade de compreender de maneira racional uma dada realidade. Porém, com o desenvolvimento do homem ao longo do tempo, foi-se distinguindo diferentes formas de consciência que predominaram durante a história da humanidade. De maneira geral, podemos identificar três tipos de consciência que se estabeleceram na relação do homem com o mundo: a mítica, a religiosa e a racional (TOMELIN; SIEGEL, 2013). 

A consciência crítica, que também pode ser uma atitude crítica tem um olhar negativo e outro positivo. Negativo quando se afirma contra ou se opõe ao preconceito e aos valores engessados da sociedade. Positivo quando questiona e interroga o motivo das coisas (CHAUI, 1997, p. 12)

Consciência mítica, religiosa e racional

A palavra racional vem do latim ratio e do grego logos e seu significado se estende aos verbos calcular, separar, contar, medir. A expressão pressupõe que conhecimento se orienta por um método e uma ordem (TOMELIN; SIEGEL, 2013). Essa concepção em grande parte foi construída pela filosofia. Mas, foi a ciência que mais se apropriou da condição de razão e deu sua assinatura ao fato com o termo racionalidade científica.

A racionalidade científica pondera conceitos, como método experimental, universalidade do conhecimento, formulação de teorias, enquanto a racionalidade filosófica está voltada para questões humanas que não podem ser verificadas por leis universais ou experimentais (CHAUI, 1997).

A consciência religiosa afirma-se na construção argumentativa partindo da revelação divina. A doutrina religiosa é considerada infalível e indiscutível, parte de uma aceitação convicta de que suas verdades são absolutas. Este tipo de consciência dispensa os indivíduos da atitude reflexiva e transformadora diante do mundo, sendo uma visão estável e conformista da realidade. (ARANHA; MARTINS, 1999).

A consciência mítica, se assemelha à religiosa, tem na mitologia a base para explicar as condições naturais e sociais de nossa realidade. O mito pode oferecer explicações sobre a origem do universo e da Terra, mas elas são baseadas na crença e dificilmente são verificáveis pelas evidências. É baseada na tradição oral do compartilhamento do conhecimento.

Consciência crítica e educação

Ao tomar consciência do mundo, cada pessoa se responsabiliza por seus atos e por isso deve respeitar todas as dimensões que demandam dos indivíduos de uma sociedade.

Ao analisarmos o mundo por uma perspectiva crítica nós identificamos as contradições na sociedade, isso nos impõe uma situação difícil, mas inevitável ao pensador crítico. Restam dois caminhos: optar pela humanização ou negá-la.

Para o filósofo brasileiro Paulo Freire é fundamental que a educação não fique indiferente diante das mazelas da humanidade. A educação deve demonstrar que os problemas não surgiram por mágica e, sim, por condições históricas elaboradas por pessoas reais. E se são reais, podem ser responsabilizadas por isso. A própria educação é vítima desse tipo de desarranjo (KEIM, 2011; FREIRE, 2002).

O fato desse desarranjo educacional é o fato de que como Marx afirma: “Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem”. O que nos põe diante da seguinte situação, segundo a filósofa Marilena Chauí:

Podemos chamar isso de alienação social, sendo que essa questão pauta-se no desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriormente determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações (CHAUI, 1997, p. 72).



Voltando a Freire (1996), a educação tem importância na formação da consciência crítica. É por meio de ambas que as pessoas construirão sua criticidade, fato que possibilita aos indivíduos serem autores de sua própria história e não apenas espectadores de sua vida.

Tipos de conhecimento

Existem diferentes formas ou tipos de conhecer a realidade física ou social de nosso mundo, entre eles: mitológico, senso comum, científico, filosófico, artístico e religioso. 

O conhecimento mítico ou religioso são constituídos de saberes sobre a existência humana, como a morte, o espírito, o sentido de existir, a fé e as questões espirituais. Denotando um aspecto de magia que não depende de explicações racionais, resumindo-se em verdades absolutas e dogmáticas.

Versando entre as primeiras compreensões do mundo, pelo indivíduo, é chamado de senso comum, o qual é adquirido por herança do grupo social em que estamos inseridos e se forma pelas vivências do cotidiano. É originário da tradição oral e dos saberes espontâneos, é um conhecimento superficial e fragmentado. 

Chegamos então ao conhecimento científico, que por conjunção de fatores históricos que confirmaram sua eficácia ele é considerado determinante e superior sobre outras formas de conhecimento. Seu principal objetivo é a explicação dos fenômenos físicos ou sociais mediante um método que seja racional, verificável e experimental. O principal anseio que mantém a condição humana ao conhecimento científico é sua aplicabilidade e funcionalidade facilmente perceptível e a coerência que o mesmo apresenta, além de nos proporcionar um controle da realidade. 

No entanto, o saber científico não pode desconectar suas ações e consequências da dimensão da ética, o ethos da ciência; e desconsiderar que não é possível alcançar uma verdade absoluta. Num processo contínuo de auto-correção. 

O conhecimento artístico não tem a pretensão de ser objetivo, prático nem tampouco exato. O anseio do mesmo é a interpretação e ampliação da sensibilidade diante da complexidade da realidade da estética. Tendo sua maior base na subjetividade do indivíduo e de quem interpreta a obra ou a realidade. 

Os saberes podem somas diversidades, assim a realidade terá em seu horizonte a ampliação da ética, da humanização e da valorização da vida. Entretanto, temos que ter padrões claros de absorção de conhecimento, dentre os apresentados o conhecimento científico apresenta-se como o mais apto e legitimado a ser o norteador sobre o entendimento da natureza e da vida social. 

Conhecimento, tecnologia e educação

A tecnologia não tem uma origem muito clara. Desde a pré-história, o ser humano construiu ferramentas para enfrentar os desafios da natureza e garantir a sobrevivência. Entretanto, foi após a Revolução Industrial que o conhecimento científico passou a se aliar à produção de artefatos e sistemas tecnológicos, o que transformou, como nunca visto antes, a relação entre os indivíduos e destes com o mundo. 

Após isso, claramente observamos que a mesma tecnologia que pode ser utilizada para o bem comum da humanidade, pode ser utilizada para a destruição da mesma, como as tecnologias utilizadas para a guerra. Após as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagazaki, aumentou-se a preocupação com o éthos da ciência. (ver MERTON, 1937).

O presente e futuro oferecem-nos sérios motivos de preocupação: poluição, crise ambiental e das fontes de energia, escassez de água potável, doenças, desigualdade socioeconômicas, terrorismos e totalitarismos. São consequências de uma força gananciosa por progresso ilimitado e acúmulo de riquezas. Se por um lado a sociedade do consumo proporciona facilidades domésticas, revoluções médicas e estéticas, um bem estar nunca visto na história, por outro, qual é o preço a ser pago por este modelo?

Esta perspectiva apresenta-nos um questionamento sobre os problemas em que a forma de produzir tecnologia podem ser proporcionar para o nosso lar planetário e a nós mesmos. O que nos indica uma crescente preocupação e revisão da ética da ciência. 

É observável que o avanço do desenvolvimento técnico e tecnológico não confirmou o desenvolvimento de uma sociedade mais humana e justa. Para os otimistas, a humanidade se direciona para o bem-estar social cujo trabalho, através das máquinas, não será mais degradante. Para os pessimistas, a sociedade será vitimada pelo excesso de controle, pela perda da privacidade e pelo alto custo social dos bens tecnológicos de consumo (TOMELIN; SIEGEL, 2013; CUPANI, 2011; DUPAS, 2006).

A crítica aqui apresentada não é quanto a legitimidade da ciência e seu campo conceitual, teórico e metodológico, mas sim à utilização e formas de uso da mesma. Como Freire nos lembra: ou optamos pela humanização ou a negamos. Também podemos ver isso nas abordagens de Carl Sagan no Pálido Ponto Azul

Referências: 

ARANHA, M. L de A; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1999.
CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997.
CUPANI, A. A filosofia da tecnologia: um convite. Florianópolis: UFSC, 2011.
DUPAS, G. O mito do progresso: ou progresso como ideologia. São Paulo: Unesp, 2006.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
KEIM, E, J. Paulo Freire e a complexidade na educação. Dialogia - Revista do Departamento de Educação - Centro Universitário Nove de Julho, UNINOVE, v. 0. p, 32-40, 2001.
MERTON, Robert K. O éthos da ciência .2016. Transcrito por Douglas Ferrari Disponível em: http://www.grupoastrofisicaconcordia.org/ethos-da-ciencia/. Acesso em: 15/03/2016
MORELL, J. C. Pensamentos Pedagógicos e Sistemas Educacionais. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014.
TOMELIN, J. F.; SIEGEL, N. Filosofia geral e da educação. Caderno de estudos. Indaial: Uniasselvi, 2013.


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