quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Consciência de dependência

Texto extraído na íntegra de Blog Palavras Aleatórias, autor: Carlos Siqueira A seguir seguirão algumas pontuações minhas, réplica do autor e tréplica minha. (que podem ser encontrados também na publicação original.

"Já é sabido que todos os dias alguém de casa caminha com “meu” cachorro, já é sabido que todos os dias ele “cobra” para que andemos com ele, e já é sabido que isso faz parte de um condicionamento. Esta é a parte triste.



Sempre que vejo esta cena repetir-se, lembro de um trecho de uma música da banda Engenheiros do Hawaii, que diz: “Somos quase livres, isto é pior do que a prisão”. Frase subjetiva, mas que sempre me faz lembrar dos animais de estimação, e quando os vejo, lembrar da canção.

O motivo é muito simples: o cachorro até diverte-se quando sai de casa, quando “escapa” da rotina, do ambiente de sempre, e ele tem consciência disso, pois o pede. E é aqui que entra a parte triste: a consciência da possibilidade de sair, mas a dependência de outrem para conseguir.

É assim conosco também, temos nossa liberdade, no entanto, ela não é plena; dependemos do quanto de espaço os outros ou o mundo nos permite ter. Queremos fazer tais ações, mas as instituições, o sistema ou nós mesmos, impõe uma realidade. Os desejos são vontades que ainda não se concretizaram em ações — ou nunca se concretizaram.


No caso do cachorro, ele depende de alguém da família; em parte da vida, o funcionário depende do trabalho e do patrão, e o patrão depende do funcionário e do trabalho do funcionário, mas nenhum dos dois possui consciência de que um depende do outro, somente visões unilaterais: o patrão só vê a dependência do funcionário para com ele, e o funcionário só vê a sua dependência para com o trabalho. Ambos alienados e condicionados.

Voltando à relação com o animal, deve ser triste para ele saber que depende de alguém para que possa caminhar na rua, mas é mais triste ainda para quem caminha e possui a consciência da dependência dele, pois sabendo que a alegria dele e dos outros depende de nossas ações, e nossas ações são limitadas por inúmeros fatores, sofremos pela consciência dele e pela nossa.

É nisto que consiste a tristeza de saber da quase-liberdade, pois se temos consciência de que nada mais pode ser feito, aceitamos; mas se sabemos que há algo além que poderia ser alcançado, que chegamos perto e não atingimos, sofremos.

Pode-se pensar que “a ignorância é uma bênção” e que não saber o que acontece conosco ou ao nosso redor é melhor do que saber e não poder fazer nada. Todavia, é somente através da consciência que se pode pensar em/e superar o problema. Sabemos da alienação dos outros, eles não podem fazer nada, mas poderiam fazer caso soubessem, e nós podemos fazer por eles. Pior do que sofrer, é sofrer sem saber o motivo.

PS: Não há enredo nestes textos. O "banal" serve de motivo para as reflexões."


+MINHAS PONTUAÇÕES+
Uma perfeita análise, aos bons leitores... vão subjetivar seu texto e como você mesmo apontou, hão de colocar-se no local do cachorro livre mas não tão livre. Dependendo de sua liberdade condicionada.

A relação entre patrão e trabalhador parece muito mais válida para o lado do trabalhador que não vê a dependência que o patrão, isso se considerarmos o capitalista tem dele como funcionário. 

No momento em que fala que voltou a falar do animal, que ele depende de alguém para andar na rua, é como se não voltasse a falar dele, porque afinal, nós dependemos do sistema capitalista e do trabalho para poder andar na rua, sair... pois para onde quer que vamos há valor monetário estabelecido e precisamos deste para poder utilizar-se do mesmo.

Talvez seja por isso que muitos consideram a depressão como a doença do século, a consciência que nós temos da quase-liberdade e busquemos a solução em outras coisas, muitos na religião por exemplo. Isso é observado nos discursos dos pastores rumo ao sucesso... etc... 

E entramos num ponto crítico é melhor a ignorância então? Mas, e nós, somos de fato emancipados? ou somos permitidos a pensar até dado ponto? (aí entra uma questão filosófica mais profunda). Mesmo nós que sabemos não torna-se difícil conseguir a liberdade de fato?

excelente reflexão a sua Carlos e excelente o paralelo que fez com a condição humana.

+RÉPLICA DO AUTOR+
Muito obrigado, Douglas. Sim, na maior parte dos casos, é o trabalhador que não percebe que o patrão depende dele, mas o patrão também não percebe isso, e acha que somente o trabalhador precisa de alguém, no caso, ele e o emprego. 
Isso mesmo. Quando o assunto volta a falar do cachorro, é como se não fosse ele, mas nós, porque a metáfora já foi feita e percebida (houve consciência).

É dito mesmo que a depressão é a doença do século; buscamos soluções para fugirmos do dia-a-dia, mas não percebemos que essas soluções são ilusões (como você citou o capitalismo, é ele mesmo quem cria essas ilusões. Pagamos por elas também). 

É interessante você citar a religião, pois muitos veem ela como libertação, no entanto, ela prende-nos mais ainda. São mais regras a seguir e menos liberdade do ser. Isso fisicamente — não confundamos religiosidade com religião.

Sobre seu último parágrafo, é complicado mesmo. Eu lembro do filme Matrix: somos presos, é melhor saber que somos presos ou viver enganados a vida toda, achando que somos livres? (É a Caverna de Platão). Mesmo que pensantes, somos limitados pelo o que nos é possível (não por Deus ou Destino, mas pelo mundo criado ao nosso redor). Marx pontua que somos limitados pelo nosso meio, mas com as ferramentas que temos, podemos mudá-lo. Creio que a ignorância não é o melhor remédio. 

Muito obrigado por comentar e enriquecer o texto. Pensemos.

+MINHA TRÉPLICA+

Não me contive e vou complementar ainda mais, seguindo em ordem respectiva à seu comentário resposta. 



- De nada. Sim, o argumento capitalista usual é que quem a relação de dependência na óptica do patrão é sempre do trabalhador para com ele. "Sem mim o trabalhador não teria emprego", "ele depende de mim, capitalista"... etc... Porém, devemos compreender que pessoas que pensam assim estão cegadas pura e exclusivamente pelo capital. Já capitalistas espertos sabem da relação de dependência que eles tem para com os trabalhadores e formulam manobras para manter o status quo.



- Neste caso, fica subjetivo à quem lê se quer voltar a ler como se fosse análise de um cachorro ou ler analogamente porém, colocando o ser humano em foco. Confere?



- No ponto de que o capitalismo cria soluções ilusórias, podemos observar isso claramente com o fetiche da mercadoria que é inserido no contexto social por meio de coerção e alienação intelectual. Ex: Produto X vai lhe trazer felicidade etc.. marca y... e por aí vai... engana-se quem acha que o capitalismo é subliminar. Ele é impositivo, nas propagandas você vê claramente, um exemplo é o "Beba Coca-Cola, abra a felicidade". 

- A religião neste caso, serviria como um ponto de tentativa de fuga da realidade, uma fuga desesperada na qual você quer acreditar que a salvação virá dos céus porque perdeu totalmente a motivação de mudança num aspecto materialista existencialista. Perceba que os discursos das religiões hoje, muito observável nas protestantes é envolto do sucesso financeiro, status social, cura de relacionamentos que tornaram-se superficiais devido ao consumismo e foco no CAPITALismo. 


- O filme Matrix é muito bom para descrever que às vezes acreditamos que algo é real, porém estamos vivendo uma ilusão. Neste aspecto o estudo da subjetividade parece-me ser bastante válido. Um antissemita dificilmente tem consciência de que o é, para ele aquilo é natural. A subjetividade entraria no âmbito em que ele vê que ele é antissemita interioriza estes conceitos e faz um processo de autocrítica para corrigir-se.

+TRÉPLICA DO AUTOR+

É isso mesmo. Parte dos capitalistas tornaram-se alienados ao ponto de não perceberem-se na dialética da dependência. Até lembrei daquele outro texto meu, "Alienação" (http://palavrasaleatorias09.blogspot.com.br/2015/05/alienacao.html).



Confere sim. Quando começamos a ler, achamos que falamos do animal, mas após ser feita a comparação, vemos que estamos na mesma posição. Aí o leitor já percebe que o texto é sobre nós também.



Sobre a imposição do capitalismo, é assim mesmo. Com certeza é a fetichização da mercadoria e o afastamento da consciência crítica.


O seu quarto parágrafo, quando você diz que as pessoas procuram uma fuga da realidade, uma salvação vinda dos céus, pois a motivação de mudança perdeu-se totalmente,é o niilismo passivo acontecendo (se tivéssemos uma consciência crítica, seria o niilismo ativo, a mudança de valores). Isso vendo por um lado nietzschiano. 

O filme Matrix é ótimo, é uma outra forma de mostrar a Caverna de Platão. Considerando seu comentário sobre o antisemita e voltando à religião, acabo por lembrar de um trecho do livro O mal-estar na civilização (Penguin & Companhia das Letras, 2011), do Freud. O trecho diz: (...) Devemos caracterizar como tal delírio de massa também as religiões da humanidade. Naturalmente, quem partilha o delírio jamais o percebe." (p.26). 

É preciso que alguém com uma visão mais esclarecida, perceba e ajude-o a esclarecer-se, para que, talvez, caso consiga, ele possa mudar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

As Escolas devem ser Laicas

Este é um terreno bastante delicado. A questão da liberdade religiosa, a partir do iluminismo, século XVIII, houve uma progressiva separação da religião e do Estado. A criação do Estado laico permitiu a liberdade religiosa, pois antes disso a religião do rei tinha de ser a religião dos súditos. Por isso as inúmeras guerras religiosas, cada grupo matando o outro em nome de Deus. A partir, então, do século XVIII, a escolha religiosa passou a ser uma questão de espaço privado. O estado deixou de se preocupar com isso, permitindo a cada um a escolha ou não de sua crença.


Assim, a escola pública é laica, isto é, não tem uma religião em especial. Na prática significa que a escola não deve fazer propaganda dessa ou daquela denominação religiosa, não deve obrigar os alunos a praticar certos tipos de rituais, não deve julgar os alunos pelas suas crenças. Isso significa que, a rigor, na escola pública não deve haver símbolos de qualquer credo religioso. Se houver um, então todos deverão ter o mesmo direito. Isso afeta inclusive o ensino religioso nas escolas.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Fetiche da Mercadoria

Texto extraído na íntegra de: SARTRE, Jean Paul. O que é subjetividade? 1 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 29 - 31 (As notas no final são minhas considerações e/ou apresentações de definições).


(...) a fetichização da mercadoria[1] que faz com que a mercadoria apareça como tendo certas propriedades que ela não tem. Essa fetichização da economia aparece como resultado do processo do capital e, por conseguinte, quando vemos uma mercadoria fetichizada, quando nós mesmos, embora alertados pela teoria marxista, tomamos essa mercadoria que vamos comprar como fetichizada, quando a consideramos um fetiche, limitamo-nos a fazer o que a realidade exige que façamos, pois, em certo nível, ela é objetiva e realmente fetichizada. Nesse momento, como se percebe a realidade subjetiva parece sumir completamente, pois o portador das relações econômicas as realiza como deve realizá-las no nível em que ele se encontra, e a ideia que ele tem delas limita-se a refleti-las no mesmo nível em que se encontra a práxis[2]; ou seja, que o negociante e o comprador nesse nível imediato tomarão essa mercadoria como fetichizada, mesmo que o economista ou o marxista, em outro plano, percebam que essa fetichização é, na realidade, uma transformação decorrente do processo do capital. Por isso alguém como Lukács[3] pode propor uma teoria da consciência de classe inteiramente objetiva, segundo uma dialética objetiva e, se ele parte da subjetividade, será apenas para remetê-la ao sujeito individual, concebido como fonte de erros ou apenas de realização inadequada. Com Lukács, será considerado, sobretudo, que a consciência de classe é mais ou menos desenvolvida, mais ou menos clara, mais ou menos obscura, mais ou menos contraditória, mais ou menos eficaz, apenas pelo fato de a classe considerada pertencer, direta ou indiretamente, ao processo essencial de produção. Por exemplo, no pequeno-burguês, a consciência de classe será objetivamente vaga, obscura e nunca poderá, por razões que Lukács explica, chegar a uma verdadeira consciência de si[4], ao passo que o proletariado, profundamente inserido no processo de produção, pode ser levado pela realidade que é o seu trabalho, uma total tomada de consciência de classe.

Essa concepção ordena o objetivismo a ponto de fazer desaparecer toda subjetividade e, assim, até nos fazer cair em um idealismo, idealismo sem dúvida dialético, idealismo no qual se partirá da condição material, mas, mesmo assim, idealismo[5]. Ora, não é verdade que Marx, ou o marxismo, se prestem a este papel. Há textos cuja ambiguidade decorre de sua profundidade, mas não são textos a serem interpretados como se o pan-objetivismo fosse a finalidade precisa do marxismo. É bastante sensível em textos como a Introdução à crítica da economia política, em que Marx escreve: "Assimo como em toda ciência histórica ou social em geral, nunca se deve esquecer, a propósito do avanço das categorias econômicas, que o sujeito - no caso, a sociedade burguesa moderna - é conhecido, tanto na realidade quanto na mente, que as categorias exprimem, portanto formas de existência, condições de existências determinadas, quase sempre em simples aspectos particulares desta determinada sociedade, desse sujeito, e, por conseguinte, essa sociedade só começa a existir, também do ponto de vista científico, a partir do momento em que ela é tratada como tal"[6]. É claro que "existência" não quer dizer aqui existencialismo ou existência no sentido existencialista[7]. Não se trata de extrair dos textos um sentido que eles não têm, mas isso nos remete ao homem total. Porém, qual é este homem total? Os senhores sabem que nos textos do jovem Marx, assunto que ele retoma depois, o homem total se define por uma dialética de três termos: necessidade, trabalho, prazer. 

Logo, se quisermos compreender, segundo Marx, o conjunto da dialética da produção, é indispensável primeiro voltar ao fundo, e o fundo é o homem que tem necessidades, que procura satisfazê-las, isto é, produzir e reproduzir sua vida pelo trabalho, e que consegue, segundo o processo econômico disso resultante, chegar ao prazer mais ou menos imperfeito, mais ou menos atrofiado, mais ou menos total[8](...)"

[1] Fetichização da mercadoria é o modo que o filósofo Karl Marx denominou o fenômeno social e psicológico onde as mercadorias aparentam ter uma vontade independente de seus produtores. Segundo Marx, o fetichismo é uma relação social entre pessoas midiatizada por coisas. O resultado é a aparência de uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas. As pessoas agem como coisas e as coisas, como pessoas. Ou seja, o fetiche seria algo "místico" que a mercadoria possui, influenciando gostos, impondo padrões e criando necessidades que antes não tínhamos.

[2] Práxis é a ação concreta em ocorrência. No caso do texto a reflexão acerca do que é a mercadoria e sua importância é determinada pela ação que ela produz em sua relação de compra/troca dentro do sistema que gere o capital, ou seja, o capitalismo. 

[3] György Lukács filósofo húngaro nascido em 1885, influenciado por Kant no início de sua carreira, após encontrar-se com Hegel, tornou-se marxista.

[4] Neste ponto vale lembrar a reflexão que Simone de Beauvoir fez, na qual ela questiona como alguém privilegiado pode pensar sua própria situação? O pequeno-burguês está dentro de uma ideologia na qual ele por ser beneficiado de modo razoável financeiramente falando e ao mesmo tempo não ser parte da grande burguesia não consegue observar as diferenças de classe sem o ponto de vista da ideologia capitalista, a qual a própria Simone aponta a dificuldade em legitimar esta, quando apontando à universalização dela e suas demagogias. 

[5] Note que neste ponto Sartre faz uma crítica ao idealismo marxista.

[6] Note que aqui Marx afirma claramente que não podemos esquecer o avanço que tais categorias, em nosso caso a burguesia moderna, nos proporcionaram. E, que mesmo da óptica científica a sociedade capitalista começa a existir assim que ela é tratada como tal.

[7] Existencialismo ou pensamento existencialista é quando colocamos o indivíduo (ser humano) com suas características que lhe são próprias como parte da especulação filosófica, colocando a pessoa junto com a realidade e suas interpretações dela, a grosso modo.

[8] Nesse ponto ao considerar homem total e versar que mesmo através da relação econômica do trabalho, o homem não consegue chegar ao estágio final de prazer total e tornar-se um homem completo, afinal, a fetichização da mercadoria acaba nos tirando do foco do nosso próprio trabalho juntamente com o processo de alienação. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Opiniões & Opiniões 2


Em referência ao texto Opiniões & Opiniões estou fazendo uma "parte 2" dele, mas numa perspectiva bem pessoal. Então desde já fica claro que esta parte dois é apenas uma autocritica em referência ao primeiro que de certo modo já tinha sido bem pessoal. Mas, vamos lá!

Como ser senciente tenho opiniões, e quero poder ler uma obra ou um acontecimento e após refletir sobre o mesmo ter o poder de expressar um pensamento e ideia sobre este e fazer socialização dela ao ponto de gerar debates, principalmente conscientização. Porém, para formar uma opinião é um processo atribulado, partindo do pressuposto do qual este texto foi escrito de que formar um pensamento que extrapole o senso comum¹ devemos evitar pensamentos ilógicos, preconceituosos e errôneos. Sendo assim a preocupação é que consiga formar uma opinião que desenvolvida através de qualquer meio como: escrita, debates, conversas... etc... que seja expressado corretamente no ponto em que não há como deixar a socialização da ideia a gerar mal interpretações, logo, num processo de escrita coerente, um exemplo é a forma de expressar as ideias, se escreve de maneira em primeira pessoa, narrativa, descritiva para os outros? Muitas vezes em minhas escritas há alternâncias entre escrever em primeira pessoa e "para os outros". 

A opinião expressa nunca deve ser uma verdade absoluta, mas pode ser bem embasada do ponto de vista lógico e racional para se defender como uma opinião racional/científica que mais se aproxime da realidade.  Sendo assim, num tempo futuro poder reler tais opiniões e fazer autocritica, não tenho medo de que eu discorde do que já expressei, isso significa que eu me desenvolvi, desde que eu não cometa erros de passar a opinar de maneira a discordar da realidade e da racionalidade. O processo de formação de opinião é turbulento dependendo do assunto abordado, são muitas variáveis a serem consideradas, principalmente nas opiniões que são relativas às ciências humanas, como ciências sociais, políticas, filosóficas dentre outras, pois nestas o formador de opinião não tem um laboratório e pode condensar os dados para um processo de experimentação num laboratório assim como as ciências exatas, conforme já fiz publicação no texto: Sociologia em busca da Verdade: Sociologia como ciência. É óbvio que as ciências humanas tem dados, informações e fatos a considerar para fundamentar seus pensamentos, mas as variáveis são tantas e o formador de opinião, que é o observador dos fatos e da realidade faz parte do objeto de estudo no qual quer opinar. 

Espero sinceramente que um dia, eu consiga formar opiniões e influenciar positivamente as pessoas independentemente da quantidade, mas pensando na qualidade e de maneira assertiva assim como muitos escritores, filósofos e cientistas que admiro o fizeram. 

¹ Senso Comum - É um saber que não se baseia em métodos ou conclusões científicas, e sim no modo comum e espontâneo de assimilar informações e conhecimentos úteis no cotidiano. | Senso comum é também o modo de pensar da maioria das pessoas, são noções comumente admitidas pelos indivíduos.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Opiniões & Opiniões

Faz um certo tempo em que eu estava a refletir a respeito das opiniões que expressamos por meio de qualquer forma de interação social. E, finalmente decidi escrever algo sobre e, o interessante disto é que vai ser uma opinião, uma opinião sobre opiniões.


Por sermos um ser social por essência, as nossas opiniões e/ou pensamentos são compartilhadas através da interação social, diálogo, narrativa, escrita e etc... Sempre voltada ao "outro". Este texto é relacionado principalmente a opinião política e de certo modo, a educação. Também um texto opinão sobre opiniões. 

Desde 2015 muitos uma parcela considerável de brasileiros passaram da acomodação política ao debate político e ideológico, iniciaram a exposição de suas perspectivas e crenças políticas, sejam elas feitas por: reflexões próprias, estudos e assimilação ou adquiridas de outras e apenas reproduzidas.

Há claramente um embate ideológico renascendo e muitas opiniões são expostas de vários modos, seja através de debates, conversas, diálogos, por meio de suas redes sociais e através de mídias como a internet, por exemplo. Mas, não é somente o embate político que gera opiniões, quaisquer assunto em que refletimos, parece uma necessidade intrínseca ao ser humano "ter uma opinião". Até aí tudo bem, mas o empecilho disto tudo é quando expressamos opiniões errôneas como se fossem verdades.

Muitas pessoas simplesmente vêm, ouvem ou leem algo de forma tão superficial e já saem expressando uma opinião com características prontas, superficialistas e com um caráter de verdades absolutas. Neste ponto, devemos redobrar a atenção e nos recordarmos ou buscar na história de nossa civilização para percebermos que muitas de nossas verdades absolutas (dogmas) foram desmistificados sistematicamente, e hoje já não acreditemos nestes. Um exemplo de verdade absoluta foi a Terra plana e a consideração de que éramos o centro do Universo.

Bom, mas o que isso tem haver com o que este texto anseia por refletir? Tudo! afinal, justamente o fato de que nós não vivemos em um mundo onde há verdades absolutas e há a faliabilidade humana, mostra-nos que não devemos defender uma opinião superficial, circular, auto-confirmatória, sem verificá-la através do ceticismo, ou seja, ao fazer isso podemos facilmente cometer erros, e sermos reprodutores de opiniões erradas, preconceituosas e com discursos de ódio.

O que se tem sido observado nas redes sociais e nas opiniões de massa é justamente o fato de que as pessoas (ingênuas), tem opiniões prontas sobre assuntos em que são ignorantes, literalmente ignorantes, ignorantes porque elas ignoram, não leem, não conhecem, mas tem uma opinião formada principalmente sobre aquilo que elas não entendem.

Estas pessoas costumam ter medo, ódio daqueles que imaginam ser seus "inimigos", e expressam opiniões carregadas de preconceito, xenofobia e ódio. Na iminência de alguém que pensa diferente, estas alegam não entender porque o outro pensa diferente, e acha que o problema é com o outro. Estas, demonizam alguns campos do conhecimento, por serem ignorantes e não serem capazes de fazer uma crítica mais complexa, estas copiam e passam adiante as opiniões de alguns outros "formadores de opinião" igualmente ignorantes, simplesmente repetem as ideias como se fossem suas. (Parágrafo embasado em FONSECA, 2015).

O lembrete que nos fica acerca deste breve texto é: Antes de formar opiniões e/ou ter opiniões sobre opiniões, busque ler, estudar e conhecer. Não devemos reproduzir de maneira simplista pensamentos já identificados como errôneos pela humanidade. E se você se encontrar diante de uma opinião em que você errou, admita o erro e corrija-se, não há nada de errado em fazer isso.

Observo que os que são mais criteriosos nas tomadas de opiniões, justamente pelo fato de pensar e por receio de ter alguma opinião incoerente sobre algo, são os que menos se manifestam. Os que demoram mais para expressar suas opiniões e mesmo assim, ficam fazendo auto-reflexão. E isso é extremamente saudável, aliás, evita que incoerências e discursos de ódio sejam repassados a diante. A dica é, seja criterioso, e quando for expressar sua opinião não recorra à ignorância.

Opinioes & Opiniões 3

Após alguns anos, retorno para redigir um terceiro texto sobre Opiniões. O que me motivou foi uma série de interações que tive na internet, ...