terça-feira, 15 de setembro de 2015

Etnocentrismo europeu e norte-americano

Para entendermos a melhor a questão do etnocentrismo, o que leva muitos a pensar que as etnias europeias e norte americanas são superiores à brasileira, precisamos entender a constituição do eurocentrismo. No final do século XIX e início do século XX, em plena era da expansão colonialista dos países industrializados, a conquista por territórios teve como principal objetivo a busca de matérias-primas e ampliação de mercados para as mercadorias produzidas e os excedentes de capital. Segundo Bruit (1994, p.05)
"Entre 1870 e 1914 a Europa e os Estados Unidos arquitetaram a conquista política, econômica e cultural da África, Ásia, Oceania e América Latina. Repartiram o mundo entre si e organizaram poderosos impérios coloniais que só tinham em comum o desenvolvimento da acumulação capitalista."

Ao longo da segunda metade do século XIX, as principais potências capitalistas consolidaram seu domínio com um amplo movimento de conquista militar e econômica, promovendo uma divisão geopolítica dos continentes africano e asiático. Esses países desenvolveram uma economia internacional baseada na concorrência de mercados, na ampliação do consumo e no aumento de investimento em capitais, fortalecidos por ideologias nacionalistas. Paralelamente intensificou-se a produção armamentista, considerada estratégica para garantir a colonização e dominação.
Outro aspecto importante desse contexto é que as indústrias conquistaram rapidamente os mercados de muitos países latino-americanos, causando, nesses últimos, uma dependência econômica típica do imperialismo. A industrialização permitiu um grande enriquecimento dos países europeus e, consequentemente, uma melhora das condições de vida da população, que passou a incorporar os padrões de consumo burguês-capitalista (HOBSBAWM, 2001)
Nesse contexto político-econômico, estabeleceu-se um posicionamento etnocêntrico por parte das nações europeias, na medida em que intensificaram a imposição de sua cultura. A Europa, considerada "berço" da civilização ocidental, difundiu os valores da cultura burguesa capitalista sobre os demais territórios do globo, fortalecendo seus mecanismos de dominação. No Brasil, por exemplo, a chegada da família real em 1808 reforça ainda mais a introdução dos costumes europeus nas maiores cidades do país, começando pelo Rio de Janeiro, transformada em capital da província.

Adendo: 

"A incorporação de tão diversas e heterogêneas histórias culturais a um único mundo dominado pela Europa, significou para esse mundo uma configuração cultural, intelectual, em suma inter subjetiva equivalente à articulação de todas as formas de controle do trabalho em torno do capital, para estabelecer o capitalismo mundial. Com efeito, todas as experiências históricas, histórias, recursos e produtos culturais terminaram também articulados numa só ordem cultural global em torno da hegemonia europeia ou ocidental. Em outras palavras como parte do novo padrão de poder mundial, a Europa também concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de controle da subjetividade, da cultura, e em especial do conhecimento, da produção do conhecimento" (QUIJANO, 2005. p. 227-278)

Referências:
BRUIT, Héctor Hernán. O imperialismo. 14 ed. São Paulo: Atual, 1994.
HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789 - 1848. 15 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
(QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrico e América Latina. In LANDER, E. (Org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 227-228).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O que é Cultura?

O QUE É CULTURA?



  1. A Cultura é Simbólica - se organiza em torno de símbolos e signos, cujos significados são constituídos pela sociedade, isto é, envolve a elaboração e aceitação de padrões, normas, hábitos e costumes, histórias, cujo significado é partilhado por indivíduos em sociedade.            
  2. A Cultura não é inata - o fato de não ser inata concede a cultura um caráter de aprendizado, isto é, os indivíduos não nascem portadores de cultura, mas eles aprendem as capacidades, habilidades e valores que são definidos pela sociedade como importantes.                                    
  3. A Cultura pressupõe uma linguagem - sendo a cultura algo que é aprendido, ela necessita, obrigatoriamente, de uma linguagem, de um instrumento de comunicação. Não estamos dizendo que a cultura necessita somente da escrita, sendo que as formas de comunicação utilizadas para a transmissão cultural são inúmeras (fala, gestos, símbolos...).                               
  4. A Cultura possui um caráter social - ela se refere sempre a um grupo do qual o indivíduo faz parte. Não há cultura produzida por um indivíduo isoladamente. Para que haja produção da cultura, é essencial o engajamento dos indivíduos no grupo, na coletividade.                                  
  5. A Cultura é um instrumento de coesão social - a cultura mantém os indivíduos unidos em torno de determinados ideais que são socialmente constituídos. Sendo assim, a cultura é um elemento indispensável à manutenção da ordem social, na medida em que envolve o aprendizado de hábitos, normas, tradições, valores e comportamento por parte dos indivíduos. Nesse sentido, a cultura pode ser vista como socializadora.                                                                                       
  6. A Cultura é dinâmica - a cultura está sempre em movimento, mesmo que de maneira imperceptível, pois muitas vezes essas mudanças são lentas e não aparecem de imediato a nossos olhos. 


O termo cultura é realmente cheio de especificidades, visto que aborda questões que muitas vezes estão escondidas sob as relações de nossa sociedade. Não podemos pensar em nossa sociedade sem pensar nas relações culturais que a construíram e as que a modificam, sendo que a realidade existente hoje em nossa sociedade, é muito diferente de vinte, trinta anos atrás. Só podemos compreender essas mudanças, se levarmos em consideração os aspectos sociais, históricos e culturais de nossa sociedade. 

Opinioes & Opiniões 3

Após alguns anos, retorno para redigir um terceiro texto sobre Opiniões. O que me motivou foi uma série de interações que tive na internet, ...