quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Consciência de dependência

Texto extraído na íntegra de Blog Palavras Aleatórias, autor: Carlos Siqueira A seguir seguirão algumas pontuações minhas, réplica do autor e tréplica minha. (que podem ser encontrados também na publicação original.

"Já é sabido que todos os dias alguém de casa caminha com “meu” cachorro, já é sabido que todos os dias ele “cobra” para que andemos com ele, e já é sabido que isso faz parte de um condicionamento. Esta é a parte triste.



Sempre que vejo esta cena repetir-se, lembro de um trecho de uma música da banda Engenheiros do Hawaii, que diz: “Somos quase livres, isto é pior do que a prisão”. Frase subjetiva, mas que sempre me faz lembrar dos animais de estimação, e quando os vejo, lembrar da canção.

O motivo é muito simples: o cachorro até diverte-se quando sai de casa, quando “escapa” da rotina, do ambiente de sempre, e ele tem consciência disso, pois o pede. E é aqui que entra a parte triste: a consciência da possibilidade de sair, mas a dependência de outrem para conseguir.

É assim conosco também, temos nossa liberdade, no entanto, ela não é plena; dependemos do quanto de espaço os outros ou o mundo nos permite ter. Queremos fazer tais ações, mas as instituições, o sistema ou nós mesmos, impõe uma realidade. Os desejos são vontades que ainda não se concretizaram em ações — ou nunca se concretizaram.


No caso do cachorro, ele depende de alguém da família; em parte da vida, o funcionário depende do trabalho e do patrão, e o patrão depende do funcionário e do trabalho do funcionário, mas nenhum dos dois possui consciência de que um depende do outro, somente visões unilaterais: o patrão só vê a dependência do funcionário para com ele, e o funcionário só vê a sua dependência para com o trabalho. Ambos alienados e condicionados.

Voltando à relação com o animal, deve ser triste para ele saber que depende de alguém para que possa caminhar na rua, mas é mais triste ainda para quem caminha e possui a consciência da dependência dele, pois sabendo que a alegria dele e dos outros depende de nossas ações, e nossas ações são limitadas por inúmeros fatores, sofremos pela consciência dele e pela nossa.

É nisto que consiste a tristeza de saber da quase-liberdade, pois se temos consciência de que nada mais pode ser feito, aceitamos; mas se sabemos que há algo além que poderia ser alcançado, que chegamos perto e não atingimos, sofremos.

Pode-se pensar que “a ignorância é uma bênção” e que não saber o que acontece conosco ou ao nosso redor é melhor do que saber e não poder fazer nada. Todavia, é somente através da consciência que se pode pensar em/e superar o problema. Sabemos da alienação dos outros, eles não podem fazer nada, mas poderiam fazer caso soubessem, e nós podemos fazer por eles. Pior do que sofrer, é sofrer sem saber o motivo.

PS: Não há enredo nestes textos. O "banal" serve de motivo para as reflexões."


+MINHAS PONTUAÇÕES+
Uma perfeita análise, aos bons leitores... vão subjetivar seu texto e como você mesmo apontou, hão de colocar-se no local do cachorro livre mas não tão livre. Dependendo de sua liberdade condicionada.

A relação entre patrão e trabalhador parece muito mais válida para o lado do trabalhador que não vê a dependência que o patrão, isso se considerarmos o capitalista tem dele como funcionário. 

No momento em que fala que voltou a falar do animal, que ele depende de alguém para andar na rua, é como se não voltasse a falar dele, porque afinal, nós dependemos do sistema capitalista e do trabalho para poder andar na rua, sair... pois para onde quer que vamos há valor monetário estabelecido e precisamos deste para poder utilizar-se do mesmo.

Talvez seja por isso que muitos consideram a depressão como a doença do século, a consciência que nós temos da quase-liberdade e busquemos a solução em outras coisas, muitos na religião por exemplo. Isso é observado nos discursos dos pastores rumo ao sucesso... etc... 

E entramos num ponto crítico é melhor a ignorância então? Mas, e nós, somos de fato emancipados? ou somos permitidos a pensar até dado ponto? (aí entra uma questão filosófica mais profunda). Mesmo nós que sabemos não torna-se difícil conseguir a liberdade de fato?

excelente reflexão a sua Carlos e excelente o paralelo que fez com a condição humana.

+RÉPLICA DO AUTOR+
Muito obrigado, Douglas. Sim, na maior parte dos casos, é o trabalhador que não percebe que o patrão depende dele, mas o patrão também não percebe isso, e acha que somente o trabalhador precisa de alguém, no caso, ele e o emprego. 
Isso mesmo. Quando o assunto volta a falar do cachorro, é como se não fosse ele, mas nós, porque a metáfora já foi feita e percebida (houve consciência).

É dito mesmo que a depressão é a doença do século; buscamos soluções para fugirmos do dia-a-dia, mas não percebemos que essas soluções são ilusões (como você citou o capitalismo, é ele mesmo quem cria essas ilusões. Pagamos por elas também). 

É interessante você citar a religião, pois muitos veem ela como libertação, no entanto, ela prende-nos mais ainda. São mais regras a seguir e menos liberdade do ser. Isso fisicamente — não confundamos religiosidade com religião.

Sobre seu último parágrafo, é complicado mesmo. Eu lembro do filme Matrix: somos presos, é melhor saber que somos presos ou viver enganados a vida toda, achando que somos livres? (É a Caverna de Platão). Mesmo que pensantes, somos limitados pelo o que nos é possível (não por Deus ou Destino, mas pelo mundo criado ao nosso redor). Marx pontua que somos limitados pelo nosso meio, mas com as ferramentas que temos, podemos mudá-lo. Creio que a ignorância não é o melhor remédio. 

Muito obrigado por comentar e enriquecer o texto. Pensemos.

+MINHA TRÉPLICA+

Não me contive e vou complementar ainda mais, seguindo em ordem respectiva à seu comentário resposta. 



- De nada. Sim, o argumento capitalista usual é que quem a relação de dependência na óptica do patrão é sempre do trabalhador para com ele. "Sem mim o trabalhador não teria emprego", "ele depende de mim, capitalista"... etc... Porém, devemos compreender que pessoas que pensam assim estão cegadas pura e exclusivamente pelo capital. Já capitalistas espertos sabem da relação de dependência que eles tem para com os trabalhadores e formulam manobras para manter o status quo.



- Neste caso, fica subjetivo à quem lê se quer voltar a ler como se fosse análise de um cachorro ou ler analogamente porém, colocando o ser humano em foco. Confere?



- No ponto de que o capitalismo cria soluções ilusórias, podemos observar isso claramente com o fetiche da mercadoria que é inserido no contexto social por meio de coerção e alienação intelectual. Ex: Produto X vai lhe trazer felicidade etc.. marca y... e por aí vai... engana-se quem acha que o capitalismo é subliminar. Ele é impositivo, nas propagandas você vê claramente, um exemplo é o "Beba Coca-Cola, abra a felicidade". 

- A religião neste caso, serviria como um ponto de tentativa de fuga da realidade, uma fuga desesperada na qual você quer acreditar que a salvação virá dos céus porque perdeu totalmente a motivação de mudança num aspecto materialista existencialista. Perceba que os discursos das religiões hoje, muito observável nas protestantes é envolto do sucesso financeiro, status social, cura de relacionamentos que tornaram-se superficiais devido ao consumismo e foco no CAPITALismo. 


- O filme Matrix é muito bom para descrever que às vezes acreditamos que algo é real, porém estamos vivendo uma ilusão. Neste aspecto o estudo da subjetividade parece-me ser bastante válido. Um antissemita dificilmente tem consciência de que o é, para ele aquilo é natural. A subjetividade entraria no âmbito em que ele vê que ele é antissemita interioriza estes conceitos e faz um processo de autocrítica para corrigir-se.

+TRÉPLICA DO AUTOR+

É isso mesmo. Parte dos capitalistas tornaram-se alienados ao ponto de não perceberem-se na dialética da dependência. Até lembrei daquele outro texto meu, "Alienação" (http://palavrasaleatorias09.blogspot.com.br/2015/05/alienacao.html).



Confere sim. Quando começamos a ler, achamos que falamos do animal, mas após ser feita a comparação, vemos que estamos na mesma posição. Aí o leitor já percebe que o texto é sobre nós também.



Sobre a imposição do capitalismo, é assim mesmo. Com certeza é a fetichização da mercadoria e o afastamento da consciência crítica.


O seu quarto parágrafo, quando você diz que as pessoas procuram uma fuga da realidade, uma salvação vinda dos céus, pois a motivação de mudança perdeu-se totalmente,é o niilismo passivo acontecendo (se tivéssemos uma consciência crítica, seria o niilismo ativo, a mudança de valores). Isso vendo por um lado nietzschiano. 

O filme Matrix é ótimo, é uma outra forma de mostrar a Caverna de Platão. Considerando seu comentário sobre o antisemita e voltando à religião, acabo por lembrar de um trecho do livro O mal-estar na civilização (Penguin & Companhia das Letras, 2011), do Freud. O trecho diz: (...) Devemos caracterizar como tal delírio de massa também as religiões da humanidade. Naturalmente, quem partilha o delírio jamais o percebe." (p.26). 

É preciso que alguém com uma visão mais esclarecida, perceba e ajude-o a esclarecer-se, para que, talvez, caso consiga, ele possa mudar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

As Escolas devem ser Laicas

Este é um terreno bastante delicado. A questão da liberdade religiosa, a partir do iluminismo, século XVIII, houve uma progressiva separação da religião e do Estado. A criação do Estado laico permitiu a liberdade religiosa, pois antes disso a religião do rei tinha de ser a religião dos súditos. Por isso as inúmeras guerras religiosas, cada grupo matando o outro em nome de Deus. A partir, então, do século XVIII, a escolha religiosa passou a ser uma questão de espaço privado. O estado deixou de se preocupar com isso, permitindo a cada um a escolha ou não de sua crença.


Assim, a escola pública é laica, isto é, não tem uma religião em especial. Na prática significa que a escola não deve fazer propaganda dessa ou daquela denominação religiosa, não deve obrigar os alunos a praticar certos tipos de rituais, não deve julgar os alunos pelas suas crenças. Isso significa que, a rigor, na escola pública não deve haver símbolos de qualquer credo religioso. Se houver um, então todos deverão ter o mesmo direito. Isso afeta inclusive o ensino religioso nas escolas.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Fetiche da Mercadoria

Texto extraído na íntegra de: SARTRE, Jean Paul. O que é subjetividade? 1 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 29 - 31 (As notas no final são minhas considerações e/ou apresentações de definições).


(...) a fetichização da mercadoria[1] que faz com que a mercadoria apareça como tendo certas propriedades que ela não tem. Essa fetichização da economia aparece como resultado do processo do capital e, por conseguinte, quando vemos uma mercadoria fetichizada, quando nós mesmos, embora alertados pela teoria marxista, tomamos essa mercadoria que vamos comprar como fetichizada, quando a consideramos um fetiche, limitamo-nos a fazer o que a realidade exige que façamos, pois, em certo nível, ela é objetiva e realmente fetichizada. Nesse momento, como se percebe a realidade subjetiva parece sumir completamente, pois o portador das relações econômicas as realiza como deve realizá-las no nível em que ele se encontra, e a ideia que ele tem delas limita-se a refleti-las no mesmo nível em que se encontra a práxis[2]; ou seja, que o negociante e o comprador nesse nível imediato tomarão essa mercadoria como fetichizada, mesmo que o economista ou o marxista, em outro plano, percebam que essa fetichização é, na realidade, uma transformação decorrente do processo do capital. Por isso alguém como Lukács[3] pode propor uma teoria da consciência de classe inteiramente objetiva, segundo uma dialética objetiva e, se ele parte da subjetividade, será apenas para remetê-la ao sujeito individual, concebido como fonte de erros ou apenas de realização inadequada. Com Lukács, será considerado, sobretudo, que a consciência de classe é mais ou menos desenvolvida, mais ou menos clara, mais ou menos obscura, mais ou menos contraditória, mais ou menos eficaz, apenas pelo fato de a classe considerada pertencer, direta ou indiretamente, ao processo essencial de produção. Por exemplo, no pequeno-burguês, a consciência de classe será objetivamente vaga, obscura e nunca poderá, por razões que Lukács explica, chegar a uma verdadeira consciência de si[4], ao passo que o proletariado, profundamente inserido no processo de produção, pode ser levado pela realidade que é o seu trabalho, uma total tomada de consciência de classe.

Essa concepção ordena o objetivismo a ponto de fazer desaparecer toda subjetividade e, assim, até nos fazer cair em um idealismo, idealismo sem dúvida dialético, idealismo no qual se partirá da condição material, mas, mesmo assim, idealismo[5]. Ora, não é verdade que Marx, ou o marxismo, se prestem a este papel. Há textos cuja ambiguidade decorre de sua profundidade, mas não são textos a serem interpretados como se o pan-objetivismo fosse a finalidade precisa do marxismo. É bastante sensível em textos como a Introdução à crítica da economia política, em que Marx escreve: "Assimo como em toda ciência histórica ou social em geral, nunca se deve esquecer, a propósito do avanço das categorias econômicas, que o sujeito - no caso, a sociedade burguesa moderna - é conhecido, tanto na realidade quanto na mente, que as categorias exprimem, portanto formas de existência, condições de existências determinadas, quase sempre em simples aspectos particulares desta determinada sociedade, desse sujeito, e, por conseguinte, essa sociedade só começa a existir, também do ponto de vista científico, a partir do momento em que ela é tratada como tal"[6]. É claro que "existência" não quer dizer aqui existencialismo ou existência no sentido existencialista[7]. Não se trata de extrair dos textos um sentido que eles não têm, mas isso nos remete ao homem total. Porém, qual é este homem total? Os senhores sabem que nos textos do jovem Marx, assunto que ele retoma depois, o homem total se define por uma dialética de três termos: necessidade, trabalho, prazer. 

Logo, se quisermos compreender, segundo Marx, o conjunto da dialética da produção, é indispensável primeiro voltar ao fundo, e o fundo é o homem que tem necessidades, que procura satisfazê-las, isto é, produzir e reproduzir sua vida pelo trabalho, e que consegue, segundo o processo econômico disso resultante, chegar ao prazer mais ou menos imperfeito, mais ou menos atrofiado, mais ou menos total[8](...)"

[1] Fetichização da mercadoria é o modo que o filósofo Karl Marx denominou o fenômeno social e psicológico onde as mercadorias aparentam ter uma vontade independente de seus produtores. Segundo Marx, o fetichismo é uma relação social entre pessoas midiatizada por coisas. O resultado é a aparência de uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas. As pessoas agem como coisas e as coisas, como pessoas. Ou seja, o fetiche seria algo "místico" que a mercadoria possui, influenciando gostos, impondo padrões e criando necessidades que antes não tínhamos.

[2] Práxis é a ação concreta em ocorrência. No caso do texto a reflexão acerca do que é a mercadoria e sua importância é determinada pela ação que ela produz em sua relação de compra/troca dentro do sistema que gere o capital, ou seja, o capitalismo. 

[3] György Lukács filósofo húngaro nascido em 1885, influenciado por Kant no início de sua carreira, após encontrar-se com Hegel, tornou-se marxista.

[4] Neste ponto vale lembrar a reflexão que Simone de Beauvoir fez, na qual ela questiona como alguém privilegiado pode pensar sua própria situação? O pequeno-burguês está dentro de uma ideologia na qual ele por ser beneficiado de modo razoável financeiramente falando e ao mesmo tempo não ser parte da grande burguesia não consegue observar as diferenças de classe sem o ponto de vista da ideologia capitalista, a qual a própria Simone aponta a dificuldade em legitimar esta, quando apontando à universalização dela e suas demagogias. 

[5] Note que neste ponto Sartre faz uma crítica ao idealismo marxista.

[6] Note que aqui Marx afirma claramente que não podemos esquecer o avanço que tais categorias, em nosso caso a burguesia moderna, nos proporcionaram. E, que mesmo da óptica científica a sociedade capitalista começa a existir assim que ela é tratada como tal.

[7] Existencialismo ou pensamento existencialista é quando colocamos o indivíduo (ser humano) com suas características que lhe são próprias como parte da especulação filosófica, colocando a pessoa junto com a realidade e suas interpretações dela, a grosso modo.

[8] Nesse ponto ao considerar homem total e versar que mesmo através da relação econômica do trabalho, o homem não consegue chegar ao estágio final de prazer total e tornar-se um homem completo, afinal, a fetichização da mercadoria acaba nos tirando do foco do nosso próprio trabalho juntamente com o processo de alienação. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Opiniões & Opiniões 2


Em referência ao texto Opiniões & Opiniões estou fazendo uma "parte 2" dele, mas numa perspectiva bem pessoal. Então desde já fica claro que esta parte dois é apenas uma autocritica em referência ao primeiro que de certo modo já tinha sido bem pessoal. Mas, vamos lá!

Como ser senciente tenho opiniões, e quero poder ler uma obra ou um acontecimento e após refletir sobre o mesmo ter o poder de expressar um pensamento e ideia sobre este e fazer socialização dela ao ponto de gerar debates, principalmente conscientização. Porém, para formar uma opinião é um processo atribulado, partindo do pressuposto do qual este texto foi escrito de que formar um pensamento que extrapole o senso comum¹ devemos evitar pensamentos ilógicos, preconceituosos e errôneos. Sendo assim a preocupação é que consiga formar uma opinião que desenvolvida através de qualquer meio como: escrita, debates, conversas... etc... que seja expressado corretamente no ponto em que não há como deixar a socialização da ideia a gerar mal interpretações, logo, num processo de escrita coerente, um exemplo é a forma de expressar as ideias, se escreve de maneira em primeira pessoa, narrativa, descritiva para os outros? Muitas vezes em minhas escritas há alternâncias entre escrever em primeira pessoa e "para os outros". 

A opinião expressa nunca deve ser uma verdade absoluta, mas pode ser bem embasada do ponto de vista lógico e racional para se defender como uma opinião racional/científica que mais se aproxime da realidade.  Sendo assim, num tempo futuro poder reler tais opiniões e fazer autocritica, não tenho medo de que eu discorde do que já expressei, isso significa que eu me desenvolvi, desde que eu não cometa erros de passar a opinar de maneira a discordar da realidade e da racionalidade. O processo de formação de opinião é turbulento dependendo do assunto abordado, são muitas variáveis a serem consideradas, principalmente nas opiniões que são relativas às ciências humanas, como ciências sociais, políticas, filosóficas dentre outras, pois nestas o formador de opinião não tem um laboratório e pode condensar os dados para um processo de experimentação num laboratório assim como as ciências exatas, conforme já fiz publicação no texto: Sociologia em busca da Verdade: Sociologia como ciência. É óbvio que as ciências humanas tem dados, informações e fatos a considerar para fundamentar seus pensamentos, mas as variáveis são tantas e o formador de opinião, que é o observador dos fatos e da realidade faz parte do objeto de estudo no qual quer opinar. 

Espero sinceramente que um dia, eu consiga formar opiniões e influenciar positivamente as pessoas independentemente da quantidade, mas pensando na qualidade e de maneira assertiva assim como muitos escritores, filósofos e cientistas que admiro o fizeram. 

¹ Senso Comum - É um saber que não se baseia em métodos ou conclusões científicas, e sim no modo comum e espontâneo de assimilar informações e conhecimentos úteis no cotidiano. | Senso comum é também o modo de pensar da maioria das pessoas, são noções comumente admitidas pelos indivíduos.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Opiniões & Opiniões

Faz um certo tempo em que eu estava a refletir a respeito das opiniões que expressamos por meio de qualquer forma de interação social. E, finalmente decidi escrever algo sobre e, o interessante disto é que vai ser uma opinião, uma opinião sobre opiniões.


Por sermos um ser social por essência, as nossas opiniões e/ou pensamentos são compartilhadas através da interação social, diálogo, narrativa, escrita e etc... Sempre voltada ao "outro". Este texto é relacionado principalmente a opinião política e de certo modo, a educação. Também um texto opinão sobre opiniões. 

Desde 2015 muitos uma parcela considerável de brasileiros passaram da acomodação política ao debate político e ideológico, iniciaram a exposição de suas perspectivas e crenças políticas, sejam elas feitas por: reflexões próprias, estudos e assimilação ou adquiridas de outras e apenas reproduzidas.

Há claramente um embate ideológico renascendo e muitas opiniões são expostas de vários modos, seja através de debates, conversas, diálogos, por meio de suas redes sociais e através de mídias como a internet, por exemplo. Mas, não é somente o embate político que gera opiniões, quaisquer assunto em que refletimos, parece uma necessidade intrínseca ao ser humano "ter uma opinião". Até aí tudo bem, mas o empecilho disto tudo é quando expressamos opiniões errôneas como se fossem verdades.

Muitas pessoas simplesmente vêm, ouvem ou leem algo de forma tão superficial e já saem expressando uma opinião com características prontas, superficialistas e com um caráter de verdades absolutas. Neste ponto, devemos redobrar a atenção e nos recordarmos ou buscar na história de nossa civilização para percebermos que muitas de nossas verdades absolutas (dogmas) foram desmistificados sistematicamente, e hoje já não acreditemos nestes. Um exemplo de verdade absoluta foi a Terra plana e a consideração de que éramos o centro do Universo.

Bom, mas o que isso tem haver com o que este texto anseia por refletir? Tudo! afinal, justamente o fato de que nós não vivemos em um mundo onde há verdades absolutas e há a faliabilidade humana, mostra-nos que não devemos defender uma opinião superficial, circular, auto-confirmatória, sem verificá-la através do ceticismo, ou seja, ao fazer isso podemos facilmente cometer erros, e sermos reprodutores de opiniões erradas, preconceituosas e com discursos de ódio.

O que se tem sido observado nas redes sociais e nas opiniões de massa é justamente o fato de que as pessoas (ingênuas), tem opiniões prontas sobre assuntos em que são ignorantes, literalmente ignorantes, ignorantes porque elas ignoram, não leem, não conhecem, mas tem uma opinião formada principalmente sobre aquilo que elas não entendem.

Estas pessoas costumam ter medo, ódio daqueles que imaginam ser seus "inimigos", e expressam opiniões carregadas de preconceito, xenofobia e ódio. Na iminência de alguém que pensa diferente, estas alegam não entender porque o outro pensa diferente, e acha que o problema é com o outro. Estas, demonizam alguns campos do conhecimento, por serem ignorantes e não serem capazes de fazer uma crítica mais complexa, estas copiam e passam adiante as opiniões de alguns outros "formadores de opinião" igualmente ignorantes, simplesmente repetem as ideias como se fossem suas. (Parágrafo embasado em FONSECA, 2015).

O lembrete que nos fica acerca deste breve texto é: Antes de formar opiniões e/ou ter opiniões sobre opiniões, busque ler, estudar e conhecer. Não devemos reproduzir de maneira simplista pensamentos já identificados como errôneos pela humanidade. E se você se encontrar diante de uma opinião em que você errou, admita o erro e corrija-se, não há nada de errado em fazer isso.

Observo que os que são mais criteriosos nas tomadas de opiniões, justamente pelo fato de pensar e por receio de ter alguma opinião incoerente sobre algo, são os que menos se manifestam. Os que demoram mais para expressar suas opiniões e mesmo assim, ficam fazendo auto-reflexão. E isso é extremamente saudável, aliás, evita que incoerências e discursos de ódio sejam repassados a diante. A dica é, seja criterioso, e quando for expressar sua opinião não recorra à ignorância.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Carl Sagan Day | O Dia do Grande Cientista


O DIA DE CARL SAGAN - O DIA DO GRANDE CIENTISTA


Hoje é dia de Carl Sagan, em 09 de Novembro de 1934 nascia um dos maiores, senão o maior divulgador científico da história, falecido em 1996 inspirou e continua a inspirar gerações. Desenvolveu inúmeras atividades em prol da ciência e de sua divulgação, de fato um motivo de inspiração.

Carl Sagan até o presente momento foi e continua sendo minha maior inspiração nesta jornada pelo conhecimento, foi minha motivação quando criei e fundei o Ciência Sem Censura em 2011 que posteriormente tornaria-se o Grupo de Astronomia e Física Concórdia-SC.

É de lembrança muito vívida que em uma tarde de algum momento do ano de 2008 em que estava eu a procurar algo de interessante na televisão aberta brasileira, cansado de ver tantos programas fúteis e sem sentido, questionava-me se haveria algo produtivo para mim, à época ainda não me interessava por assunto científicos nem tampouco ampliação de conhecimentos neste âmbito. Porém, por algum motivo, farto de não ter nenhum conteúdo interessante lá estava a navegar pelos canais procurando algo diferente. Eis então, que paro no canal TV Escola e lá aparece a figura de um homem próximo a um penhasco e ondas batendo versando: "O cosmos é tudo aquilo que é, foi ou será(...)" e neste momento a câmera em zoom foca a imagem de Carl Sagan. Por coincidência sintonizei no início do primeiro episódio da série Cosmos de Sagan. Aquela frase mexeu comigo no momento em que a ouvi, uma frase muito profunda que dava uma ideia do que estava por vir, aquilo me cativou naquele instante.  


















Continuei a assistir, e a cada frase e a cada reflexão feita me surpreendeu, um novo campo de conhecimento, novas ideias sendo compartilhadas comigo através de um programa de televisão produzido por um cientista e divulgador científico no ano de 1980, vinte oito anos depois estava eu a assistir pela primeira vez a série Cosmos e iniciando minha jornada em busca do conhecimento graças a Sagan.

Desde então, minha compreensão do Cosmos nunca foi a mesma, sempre inspirada em querer conhecer mais sobre ciência, astronomia, filosofia e debates sobre assuntos que agregam intelectualmente, depois de três anos inspirado por ele e ver completamente a série Cosmos, voltar-me à ciência e a forma de pensar do conhecimento científico o mesmo jovem que procurava algo interessante na televisão decide criar um projeto para compartilhamento, divulgação e aproximação de pessoas que tem o interesse em assuntos relacionados a ciência, inspirado pelo maior divulgador científico da história, logo após a fundação do Ciência Sem Censura, este mesmo jovem no anseio por mais conhecimento ingressa na graduação em física com objetivo da astronomia e torna o Ciência Sem Censura em Grupo de Astronomia e Física Concórdia-SC, que atualmente tem iniciativas reconhecidas pela comunidade que participou de atividades e pela União Astronômica Internacional, e parceria com o programa UNAWE da Universidade de Leiden. Numa tentativa de continuar o trabalho de Sagan e continuar inspirando gerações com a ciência e o conhecimento científico.

Muito tempo sendo inspirado por este adorável ser humano que hoje voltou a ser poeira das estrelas, como ele mesmo versava "Somos poeira das estrelas" decido dedicar um texto pessoal ao mesmo. Sem muitas coisas complexas a escrever a detalhar a única coisa que sinto-me no dever de expressar é que Carl Sagan, literalmente transformou minha vida, numa perspectiva jamais antes imaginada. Se tivesse a oportunidade de conhecê-lo eu faria de tudo para tal.

Espero que com este texto, quem o ler, possa servir como uma indicação para conhecerem o trabalho que foi feito por Sagan e o trabalho que surgiu por muitos cientistas depois dele, inspirados por ele. E que, de algum modo saibam que também há alguém que foi inspirado pelo mesmo. Carl Sagan deve ser celebrado como uma figura marcante para o progresso da ciência e do compartilhamento de conhecimento científico de um viés humanista.

Carl Sagan, muito obrigado! obrigado por contribuir por minha busca pelo conhecimento, mesmo estando extremamente distantes neste oceano de Espaço/Tempo.

Alguns hiperlinks que talvez possam interessar:
Dia de Carl Sagan (GAFC)
Por que ensinar Ciência? (GAFC)
Última entrevista de Carl Sagan (Vídeo)
Pálido Ponto Azul (Vídeo)
Série Tributo à Carl Sagan
Quem fala pela Terra? (Carl Sagan)
The Carl Sagan Portal

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Etnocentrismo europeu e norte-americano

Para entendermos a melhor a questão do etnocentrismo, o que leva muitos a pensar que as etnias europeias e norte americanas são superiores à brasileira, precisamos entender a constituição do eurocentrismo. No final do século XIX e início do século XX, em plena era da expansão colonialista dos países industrializados, a conquista por territórios teve como principal objetivo a busca de matérias-primas e ampliação de mercados para as mercadorias produzidas e os excedentes de capital. Segundo Bruit (1994, p.05)
"Entre 1870 e 1914 a Europa e os Estados Unidos arquitetaram a conquista política, econômica e cultural da África, Ásia, Oceania e América Latina. Repartiram o mundo entre si e organizaram poderosos impérios coloniais que só tinham em comum o desenvolvimento da acumulação capitalista."

Ao longo da segunda metade do século XIX, as principais potências capitalistas consolidaram seu domínio com um amplo movimento de conquista militar e econômica, promovendo uma divisão geopolítica dos continentes africano e asiático. Esses países desenvolveram uma economia internacional baseada na concorrência de mercados, na ampliação do consumo e no aumento de investimento em capitais, fortalecidos por ideologias nacionalistas. Paralelamente intensificou-se a produção armamentista, considerada estratégica para garantir a colonização e dominação.
Outro aspecto importante desse contexto é que as indústrias conquistaram rapidamente os mercados de muitos países latino-americanos, causando, nesses últimos, uma dependência econômica típica do imperialismo. A industrialização permitiu um grande enriquecimento dos países europeus e, consequentemente, uma melhora das condições de vida da população, que passou a incorporar os padrões de consumo burguês-capitalista (HOBSBAWM, 2001)
Nesse contexto político-econômico, estabeleceu-se um posicionamento etnocêntrico por parte das nações europeias, na medida em que intensificaram a imposição de sua cultura. A Europa, considerada "berço" da civilização ocidental, difundiu os valores da cultura burguesa capitalista sobre os demais territórios do globo, fortalecendo seus mecanismos de dominação. No Brasil, por exemplo, a chegada da família real em 1808 reforça ainda mais a introdução dos costumes europeus nas maiores cidades do país, começando pelo Rio de Janeiro, transformada em capital da província.

Adendo: 

"A incorporação de tão diversas e heterogêneas histórias culturais a um único mundo dominado pela Europa, significou para esse mundo uma configuração cultural, intelectual, em suma inter subjetiva equivalente à articulação de todas as formas de controle do trabalho em torno do capital, para estabelecer o capitalismo mundial. Com efeito, todas as experiências históricas, histórias, recursos e produtos culturais terminaram também articulados numa só ordem cultural global em torno da hegemonia europeia ou ocidental. Em outras palavras como parte do novo padrão de poder mundial, a Europa também concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de controle da subjetividade, da cultura, e em especial do conhecimento, da produção do conhecimento" (QUIJANO, 2005. p. 227-278)

Referências:
BRUIT, Héctor Hernán. O imperialismo. 14 ed. São Paulo: Atual, 1994.
HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789 - 1848. 15 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
(QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrico e América Latina. In LANDER, E. (Org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 227-228).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O que é Cultura?

O QUE É CULTURA?



  1. A Cultura é Simbólica - se organiza em torno de símbolos e signos, cujos significados são constituídos pela sociedade, isto é, envolve a elaboração e aceitação de padrões, normas, hábitos e costumes, histórias, cujo significado é partilhado por indivíduos em sociedade.            
  2. A Cultura não é inata - o fato de não ser inata concede a cultura um caráter de aprendizado, isto é, os indivíduos não nascem portadores de cultura, mas eles aprendem as capacidades, habilidades e valores que são definidos pela sociedade como importantes.                                    
  3. A Cultura pressupõe uma linguagem - sendo a cultura algo que é aprendido, ela necessita, obrigatoriamente, de uma linguagem, de um instrumento de comunicação. Não estamos dizendo que a cultura necessita somente da escrita, sendo que as formas de comunicação utilizadas para a transmissão cultural são inúmeras (fala, gestos, símbolos...).                               
  4. A Cultura possui um caráter social - ela se refere sempre a um grupo do qual o indivíduo faz parte. Não há cultura produzida por um indivíduo isoladamente. Para que haja produção da cultura, é essencial o engajamento dos indivíduos no grupo, na coletividade.                                  
  5. A Cultura é um instrumento de coesão social - a cultura mantém os indivíduos unidos em torno de determinados ideais que são socialmente constituídos. Sendo assim, a cultura é um elemento indispensável à manutenção da ordem social, na medida em que envolve o aprendizado de hábitos, normas, tradições, valores e comportamento por parte dos indivíduos. Nesse sentido, a cultura pode ser vista como socializadora.                                                                                       
  6. A Cultura é dinâmica - a cultura está sempre em movimento, mesmo que de maneira imperceptível, pois muitas vezes essas mudanças são lentas e não aparecem de imediato a nossos olhos. 


O termo cultura é realmente cheio de especificidades, visto que aborda questões que muitas vezes estão escondidas sob as relações de nossa sociedade. Não podemos pensar em nossa sociedade sem pensar nas relações culturais que a construíram e as que a modificam, sendo que a realidade existente hoje em nossa sociedade, é muito diferente de vinte, trinta anos atrás. Só podemos compreender essas mudanças, se levarmos em consideração os aspectos sociais, históricos e culturais de nossa sociedade. 

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Sociologia e a busca da Verdade: a sociologia como ciência

A SOCIOLOGIA E A BUSCA DA VERDADE
A sociologia como ciência.


Por tratar das interações humanas, a sociologia traz um fato novo para o campo científico, que é o papel do observador, nesse caso, o cientista social. A sociologia, diferentemente das outras ciências, tem como parte integrante do seu objeto de estudo o próprio observador. Pois este, ao mesmo tempo em que observa o fenômeno, sofre influências e influencia o seu objeto de estudo. Essa realidade traz para as ciências sociais a discussão a objetividade do trabalho científico.

O cientista que estuda um fenômeno não pode interferir no objeto de estudo, caso contrário seus resultados não serão válidos, estarão viciados pela sua intervenção. Ocorre que no estudo dos fenômenos sociais há muito maior dificuldade de se permanecer neutro, pois sendo o cientista social um ser humano, influencia e é influenciado.

O que caracteriza as ciências sociais, em contraste com as ciências físicas, é a circunstância em que nelas o assunto ou objeto de que tratam se confunde com o próprio ser humano. O ser humano é, ao mesmo tempo, ator e espectador. Os fatos sociais que são seu objeto de estudo foram originados por ação humana e ao mesmo tempo é ele - como ser humano - quem observa e tece considerações sobre o fato, para constituir com ele o conhecimento e a ciência. Em outras palavras, o homem tem um duplo papel nas ciências sociais - o que não ocorre nas ciências físicas. "O homem é simultaneamente objeto e sujeito do conhecimento: objeto, como participante dos fatos que são 'objeto' de conhecimento ou das ciências sociais; sujeito do conhecimento como indivíduo observador e analista daqueles fatos" (PRADO, 1957, p.13).

Portanto, a sociologia como disciplina científica deve possuir seus próprios meios de investigação - considerando esta dualidade do observador -, bem como atingir a maior objetividade possível em todos os casos estudados.

Dentro de certos limites são utilizados medidas quantitativas na interpretação de fenômenos sociais. Dois outros métodos básicos - a observação e a comparação - são largamente utilizados, tanto pela sociologia como por outras ciências.

Não é só a utilização de um grupo particular de técnicas e pesquisas que determina se a sociologia é ou não ciência. A observação objetiva seguida de interpretação cuidadosa dos fatos observados é o processo científico fundamental de qualquer ciência; mantendo esse tipo de abordagem dos fenômenos sociais, a sociologia tornar-se-á, cada vez mais respeitada como importante ramo do saber científico.

Quando afirmamos que a observação científica deve ser 'objetiva', significa que, tanto quanto seja humanamente possível, ela não deve ser afetada pela própria crença, por emoções, hábitos, preferências, desejo ou valores do observador. Em outras palavras: 'objetividade significa ver e aceitar os fatos como são, e não como desejaríamos que fossem'. Para o sociólogo, esse é um dos procedimentos mais difíceis, pois é muito complicado assumir uma posição de neutralidade perante problemas sociais que estão sendo estudados. Não podemos confundir, no entanto, neutralidade com objetividade.

A objetividade é absolutamente necessária ao se estudarem os fenômenos sociais, entendê-los do modo como são. Ao obtermos o conhecimento acerca de nosso objeto de estudo é que se coloca a questão da ética científica -  e muitos sociólogos não aceitam.

Muitos cientistas sociais consideram que essa neutralidade ética da ciência nada mais é do que um modo de controle externo da ciência e da tecnologia científica pelos que detém o poder político.

Derivam dessa característica da sociologia -  particularmente daqueles que não aceitam essa neutralidade ética - muitos quadros para movimentos reformistas ou revolucionários em todo o mundo, e também o fato de serem os sociólogos uma das categorias mais perseguidas em regimes ditatoriais ou em qualquer estrutura institucional autoritária.

Essa característica da pesquisa sociológica e da condição do sociólogo foi muito bem expressa por Florestan Fernandes (1976, p. 179), que afirmou que:

"O sociólogo não possui um laboratório. Por isso, ele enfrenta muitas dificuldades, que não existem (ou aparecem com intensidade desprezível) nas ciências nas quais é possível pôr em prática a investigação experimental. A maior parte dessas dificuldades surge de um fato simples: o sociólogo está sujeito às normas e aos critérios experimentais do saber científico, mas ele não dispõe dos meios e das facilidades experimentais de descoberta e de verificação da verdade. Esse 'limite abstrato' é, com frequência negligenciado pelos que estudam a formação e a evolução da sociologia como ciência. No entanto, ele deveria estar sempre presente, dos levantamentos iniciais às interpretações finais: é que ele explica os 'porquês' doso avanços ou recuos dos sociólogos na investigação da realidade. O ponto de vista científico enlaça o sociólogo a uma verdadeira condição humana, da qual ele não pode escapar sem 'trair' as normas e os critérios científicos de observação e de interpretação da vida em sociedade. Quando ele ignora essa condição humana -  ou se subtrai a ela por omissão - sua contribuição sociológica poderá ser o que se quiser, menos uma sociologia científica.

Para dizer tudo com poucas palavras: as normas e os critérios científico-experimentais de verdade e de verificação da verdade põe o sociólogo em relação de tensão com a sociedade (...)".

Os sociólogos, pelo fato de terem como seu objeto de estudo a sociedade e de utilizarem os métodos científicos que darão objetividade à sua pesquisa, encontram no estudo da realidade concreta dos fatos sociais que influenciarão sua conduta, modificando consequentemente seus valores e interferindo na sua capacidade de análise. Assim, a neutralidade em relação ao objeto de estudo é uma impossibilidade real para o sociólogo, pois ao mesmo tempo que estuda determinado fato social, na realidade faz parte desse fato social, é observador e ao mesmo tempo participante do fato observado. Levar a neutralidade às últimas consequências é ignorar esta sua condição humana e, portanto, render-se às forças sociais e políticas que poderão fazer uso de sua pesquisa em detrimento de outros seres humanos. 

Florestan Fernandes (1976, p. 129) se expressou com muita clareza sobre o significado da neutralidade para o cientista social:

"A suposta neutralidade ética constitui uma capitulação às forças irracionais, que combatem à ciência e a tecnologia científica e as submetem ao seu irracionalismo. O primeiro ato de autonomia intelectual do sociólogo desenha-se nesse plano de autoafirmação como e enquanto cientista: a ciência o compromete eticamente tanto com os seus critérios de verdade (e de verificação da verdade), quanto com as transformações do mundo que possam resultar das aplicações de suas descobertas".

Os dois intelectuais brasileiros - Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes - identificaram a dupla condição do cientista social, enquanto ser humano e como cientista, o que implica duplo compromisso, com a humanidade e com a ética científica. Essa dupla condição, embora apareça em outras ciências, é muito mais presente nas ciências humanas, pois o objeto de estudo é o social, o homem e suas interações, o que pressupõe inclusão do próprio pesquisador como objeto de análise, como parte integrante do objeto que se está estudando. Para obter resultados cientificamente válidos, o cientista social não pode ignorar essa condição e ao mesmo tempo não pode permitir que o seu julgamento de valor, seus hábitos e seus costumes interfiram nas suas conclusões, impedindo-o de obter dados aceitáveis do seu objeto de pesquisa.

Quando foi perguntado ao cientista social e antropólogo Clifford Geertz "até que ponto a sociedade a que pertence e na qual se faz o trabalho de campo influenciam no trabalho dos antropólogos?", sua resposta indicou, claramente, a necessidade de busca da objetividade. Afirmou que:

"Não há dúvida quanto a isso, todos nós somos, como se diz hoje, 'observadores situados'. A única coisa que se pode fazer a respeito é ter a maior consciência possível desse fato e pensar nisso, não assumir que o modo como vemos as coisas é o modo como as coisas simplesmente são, mas entender. Sim, obviamente, um antropólogo norte-americano ou brasileiro ou um francês verão as coisas de uma maneira algo diferente, e uma das razões é o contexto cultural do qual eles vêm, do qual extraem suas percepções e seus princípios. Não há nada de errado nisso, é inevitável, o erro ocorre quando as pessoas não se conscientizam disso e simplesmente assumem que qualquer sensação que têm não precisa ser confrontada com a realidade. Claro, não há nada semelhante a um observador totalmente neutro e abstrato. Isso não é tão fatal quanto pode soar, só significa que é preciso pensar sobre de onde as pessoas vêm, onde elas estão trabalhando etc...". 

Não podemos esquecer que um dos cuidados que o cientista social deve ter para que proceda com maior objetividade possível na análise de dados sociais é a utilização metódica de técnicas de pesquisa social, que são os instrumentos metodológicos de que dispõe para a abordagem dos fatos sociais.

Extraído na íntegra de:
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. 1.ed. São Paulo, Pearson, 2005, p. 40-42).

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Desenvolvimento do Ser

Uma vez, em um debate desses muitos por aí, chegamos mutuamente sobre o assunto do desenvolvimento pessoal/intelectual do ser humano, a conclusão foi assombrosa, que todos os dias nós sofremos pequenas crises de quebra de paradigmas e rumamos em sentido ao nosso desenvolvimento. Todo o ser humano a se sentir desconfortável com a realidade em que vive, sabe que ali não é o seu lugar, talvez, nunca o foi. Porém, seu instinto de autodefesa o mantém ali parado, sobrevivendo tentando nutrir um anseio social imposto pelo próprio meio que ele está inserido. 

Imagem humorística da Evolução
Quanto mais tempo você fica nutrindo um sonho que não é em essência o seu, você fortifica e percebe que de certo modo está no sonho errado. A cada dia vives numa realidade paralela, mais descobre-se e quebra-se paradigmas que ali não é o meu lugar natural. A cada dia se intensifica que a realidade está no âmbito diferente do que você se encontra. Por exemplo, no meu caso estou mais para a FILOSOFIA DA CIÊNCIA e não no âmbito científico exato. Mais FILOSOFIA, menos cálculos. E a cada dia rumo mais e mais ao lado da filosofia.

E, o tempo que você luta por sonhos errados foram perdidos? por que continuo ali então? Certamente que não foram anos perdidos, foram anos em desenvolvimento em crescimento intelectual do qual ninguém pode tirar de ti o que você aprendeu e/ou vivenciou, isso moldou teu ser, e ajudou você a se auto lapidar. E, de fato você tem garantia de que o lado que você está querendo vai ser o melhor? Não! você não tem nenhuma garantia. Mas, o simples fato de você querer e lutar por si para chegar a tal lugar vale a pena a caminhada, por que o que é do ser humano senão uma luta constante por conhecimento e chegar ao "desconhecido"?

Nestes vários paradigmas da vida, você tem basicamente algumas opções: Permanece no sonho que você está mesmo tendo ciência de que o mesmo não é tão justo à você. Permanece nele por que é uma "obrigação" sistemática de vários fatores. Ou, aceita que você está sonhando uma ilusão e vai em busca de tentar sonhar aquilo que melhor te satisfaz naquele momento.

Se você não gosta da realidade em que vive, tente mudá-la, lute pelo que você acha que é certo. Nutra seu anseio humano pelo desenvolvimento.

domingo, 21 de junho de 2015

Ciência e a Filosofia

A ciência jamais buscou a essência das coisas, jamais tentou explicar elas, apenas buscou descrever os fenômenos os quais chamamos de "realidade" e/ou naturais;

Cabe à Filosofia e a Filosofia da ciência buscar explicar essencialmente o funcionamento da ciência e suas relações. esta primeira e buscar esclarecer-nos de uma maneira geral sobre o existencialismo, a segunda, ajuda compreender a ciência através do ceticismo e sua via de regra fundamental que é a dúvida assim dando um entendimento humano para todo o processo científico e buscar as limitações da ciência.

Nesse aspecto, podemos entender a filosofia como uma "ciência primeira" assim sendo, uma ciência que sempre existirá e acompanhará a humanidade enquanto houver humanidade, pois ela sempre estará a revisar de maneira cética tudo o que para nós é "verdade", na qual em sua função de Filosofia da Ciência ela vai ajudar com embasamento filosófico o desenvolvimento da ciência. A ciência não pode viver sem filosofia, do contrário a filosofia pode viver sem ciência. A Ciência e Filosofia em suas abordagens sobre o mundo natural são indistinguíveis pois ambas estão entrelaçadas na tentativa da compreensão da natureza.

Por isso, penso eu, que é incoerente separar a filosofia da ciência, a visão filosófica e humanista está entrelaçada em todo o processo histórico da ciência e devemos garantir que quem estuda ciências tenha real noção de que ambas são essencialmente irmãs, principalmente a física, pois ela teve sua origem na Filosofia Natural, com Thales de Mileto.

Há sempre um encontro entre Humanas e Ciências Naturais.

Qual sua opinião sobre o tema?

domingo, 14 de junho de 2015

Pensamento comercial D-M-D ou M-D-M?

QUAL SEU PENSAMENTO COMERCIAL? D-M-D OU M-D-M? OU OUTRA?
(Reflexão minha antes da citação e depois da citação).
 
A organização comercial vigente, não só no comércio mas nas pessoas que integram o sistema atual mostram seu objetivo na relação D-M-D (Ter dinheiro, para comprar uma Mercadoria e ter mais Dinheiro). Embora a grande massa da população não consiga exatamente aplicar esta razão por não ter dinheiro no início do processo nem tampouco é dono dos meios de produção. Numa outra visão que não é vigente em nossa sociedade a organização seria M-D-M (Ter mercadoria, conseguir dinheiro, para ter outra Mercadoria) assim, garantindo as necessidades pessoais e humanas de ter acesso aos bens de consumo, como ultimo fator à mercadoria em si e não o dinheiro. Que tal ler a citação e ver qual visão você tem?

"Na forma M-D-M, vender para comprar, em que o valor de uso e, portanto, a satisfação das necessidades é o fim último, não se encontra imediatamente na forma e mesma a condição de sua renovação, depois de transcorrido o processo. Por meio do dinheiro, a mercadoria foi trocada por outra mercadoria que, agora como valor de uso, sai do mercado. Com isso, o movimento está no fim.
Ao contrário na forma D-M-D, já está contido na simples forma de seu movimento que não há fim no movimento, como o dinheiro - a riqueza abstrata, o valor de troca - é o ponto de partidado movimento, e a sua multiplicação é a finalidade - pois o resultado e o ponto de partida são qualitativamente a mesma coisa, a saber, uma quantia de dinheiro ou de valor na qual, tal como no início do processo, sua limitação quantitativa reaparece como barreira a seu conceito universal - , pois o valor de troca ou o dinheiro corresponde tanto mais a seu conceito quanto a sua quantidade é aumentada - (o dinheiro como tal é intercambiável com todas as riquezas, todas as mercadorias, mas a medida em que ele é intercambiável depende de sua própria medida ou grandeza de valor) - a autovalorização permanece atividade necessária tanto para o dinheiro que sai do processo, quanto para aquele que o inaugurou - assim, como o fim do movimento, também já está dado o princípio de seu recomeço. Ele chega novamente ao fim como aquilo que era no início, como pressuposto do mesmo movimento sob a mesma forma. Isso é o que esse movimento tem em comum com o entesouramento: essa absoluta pulsão de enriquecimento, de apoderar-se da riqueza em sua forma geral." MARX, Karl: Zur Kritik Der Politischen Ökonomie. 1861-1863.


Ao que me parece, a visão D-M-D é um ciclo vicioso inacabável, que transforma o objetivo humano em objetivo financeiro, no qual você sempre está lutando por ter algo que seu valor é subjetivo, um valor abstrato no qual não representa as necessidades humanas imediatas, já que o objetivo inicial é o objetivo final, ou seja, o dinheiro. Transformando toda e qualquer relação em interesse financeiro. O qual você troca a essência humana por moeda, que é intercambiável e com valor de troca inconstante. Já a visão M-D-M nos aproxima do pensamento essencialista, na qual o motor é o bem-estar, é o satisfazer as necessidades humanas e pessoais, algo não obcecado por um valor abstrato nem intercambiável, o qual vai representar valor de uso não valor de trocas. Embora, para ter um modelo M-D-M temos de ter consciência da essência para não querermos mercadorias por tê-las, ou seja, não ter a visão D-M-D distorcida dentro de outro processo totalmente oposto.


Setembro Amarelo

  Quando se trata de saúde é muito mais fácil imaginarmos situações relacionadas a saúde física. Procuramos médicos para auxiliar-nos nesse ...