sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Análise da música "Sonhos Feitos de Papel" da banda Tequila Baby


Esta é mais uma análise de letra musical que estou a fazer, desta vez o gênero é o Punk Rock brasileiro. Há um tempo eu ouvi essa música e ao ouvi-la novamente e com mais atenção em sua letra percebi que ela carrega consigo uma grandiosa profundidade, tão óbvia quanto seus versos objetivos. 




Sonhos Feitos de Papel - Tequila Baby

Veja, amigo
Como nós dois crescemos
E defendemos sonhos feitos de papel
Você mudou demais

Traiu seus ideais que a gente
Prometeu esquecer jamais
Quantos de nós partimos
Sem ter seus sonhos de criança conseguidos

As nossas fantasias
Que a gente teve um dia
Foram esquecidas no passado
Por você e eu

Sinto que existe agora
Uma distância bem maior entre nós dois
Maior que o inferno e o céu
Seus sonhos foram feitos de papel


Por ser uma letra curta e consideravelmente objetiva, vou fazer uma análise diferente da anterior, não será pontuada e comentada "ponto a ponto". Nós, seres humanos, além de sermos seres biológicos, somos seres essencialmente sociais. Quando crianças formamos amizades através da socialização, justamente devido a nossa característica social. E nos desenvolvemos e crescemos lado a lado com outros seres sociais. 

Quando crianças nós criamos muitos sonhos e ideais, desenhamo-os, e anotamos eles em papel, prometemos que vamos cumpri-los na vida adulta, inclusive, prometemos amizades eternas numa tentativa "inconsciente" em prol de garantir as interações sociais. 

Porém, em nosso desenvolvimento nós agregamos saberes, conhecimentos e mudamos de opiniões. Podemos dizer que em vários aspectos nós mudamos radicalmente. Traímos justamente os ideais que havíamos prometido esquecer jamais, inclusive os ideais coletivos em busca de um "mundo melhor", todos nós ouvimos que as "crianças são a esperança do mundo". 

Há a situação sobre a nossa luta para que de fato consigamos realizar nossos sonhos e ideais. A grande maioria dos sonhadores são impedidos por fatores que não dependem exclusivamente deles, mas que são fatores econômicos e sociais, isso por causa da nossa organização social conhecida por capitalismo — o Punk Rock surgiu da critica a este sistema — que limita o acesso à determinadas coisas e situações que proporcionam a realização do sonho da criança na práxis. 

Pelo fato dos sonhos não terem sido realizados, tornam-se apenas fantasias, meras ilusões e/ou utopia. Mas, a grande maioria rende-se e esquece que um dia tiveram pensamentos progressistas e otimistas na esperança de nutrir seus sonhos tanto individuais quanto coletivos. Então, são esquecidos no passado. Após isso, nós reforçamos o individualismo extremo e desconsideramos o bem-estar num contexto social, aí surge o ciclo egocêntrico de: "Cada um por si, Deus por todos".

Mas, àqueles que continuam — de forma limitada e conturbada — na batalha em busca de seus sonhos, ideais, e pensamentos progressistas, em comparação com o outro que deixou de sonhar e seus ideias apenas estão no passado, a distancia entre ambos é enorme, ou seja, enquanto um foi absorvido pelo ego, pelo individualismo e abandonou os pensamentos coletivos esta longe de quem mantém o pensamento a compreender além do individual, o coletivo e os sonhos por um mundo melhor. Então,  vale frisar que na música o eu-lírico aponta que "os seus sonhos foram feitos de papel". Isso indica que o eu-lírico continua na luta pelos seus sonhos de criança. E, ele aponta que os sonhos feitos de papel e esquecidos foram pelo outro ser social. 

Nota: 
As frases escritas em itálico são ditados populares.

3 comentários:

  1. Olá Douglas. Não conhecia a banda nem a música, mas gostei muito da letra (Punk-rock não é meu gênero preferido).

    Quando somos crianças, temos a imaginação mais fértil e, também, um senso de justiça maior (ou mais puro), como você aponta. E quando crescemos, por conta do sistema em que vivemos, passamos a olhar somente para nós mesmos (como você também apontou).

    Olhando para a semântica da palavra papel, temos algo frágil, no entanto, puro (branco, pelo menos quando se pensa no papel comum e mais conhecido). As crianças defendem sonhos frágeis, que se quebram (amassam, recortam, etc.) fácilmente, mas que são bons/puros/inocentes — que você citou como progressistas, e que realmente o são.

    O problema de trair ideais é que, quando coletivos, trai-se os envolvidos também. Às vezes, traímos a nós mesmos ao trairmos os ideais que lutamos (ao aceitar a vida do dinheiro, traímos a vida humana).

    Outro ponto interessante deste trecho é o jogo de linguagem: "Você mudou demais/Traiu seus ideais que a gente/Prometeu esquecer jamais": uma rima que envolve final de verso, meio de verso (rima interna) e outra no final. Que, talvez, subjetivamente pode indicar as idas e vindas das atitudes e ideais humanos. A maioria, ao crescer desiste dos sonhos mesmo.

    O eu-lírico se contradiz ao dizer que as fantasias dele e do amigo foram esquecidas por eles ("por você e eu") e no final dizer os sonhos do amigo foram feitos de papel. Pois, se assim for, tomando como frágeis, os dele também foram, pois também foram abandonados.

    A distância que se cria pelos dois não é por terem novos sonhos (sonhos de adultos), mas por terem sonho nenhum para lutarem juntos. O ideal coletivo é o que une as pessoas.

    Uma outra metáfora possível (e para terminar meu comentário enorme rsrs)é que a distância também pode ter sido dada por o amigo ter sonho de papel, no sentido do trabalho, de posição social.

    Creio que devemos sempre sonhar, a utopia sempre será necessária para ao buscarmo-la, seguirmos em frente. Mas, talvez, o sonho deva ser de algo mais substancial/concreto, pelo menos mais do que o papel.

    Muito obrigado pela apresentação da música e banda, e pela análise; que, ao ler, me fez pensar também.

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    Respostas
    1. Carlos,

      Agradeço imensamente seu comentário e apontamentos, acredito que somaram-se a análise e visaram pontos inexplorados pela mesma. Foi um comentário muito bem pontual e engrandecedor.

      Agradeço imensamente pelo mesmo. :)

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    2. Que bom que gostou, Douglas. Eu que agradeço ao espaço e oportunidade. Continue com as análises.

      Osu!

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