segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Função Social da Escola

O texto que vem a seguir é uma reflexão breve e superficial sobre a função social da escola.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
Imagem em alusão ao clipe da música Another Brick In The Wall da banda Pink Floyd. Autor: Desconhecido
Quando pensamos em conhecimento e estudos é muito provável que imediatamente imaginemos da escola como um espaço em essência legitimado para o ensino/aprendizagem, tendo em vista que é uma instituição social historicamente bem estabelecida. Em quase sua totalidade a população vê a escola como formadora dos cidadãos preparando-os para a vida em sociedade, neste aspecto não teríamos muita dificuldade em definirmos o que é a escola, pois é senso comum este aspecto mencionado. Porém, tendo em vista que o senso comum não tem caráter de cientificidade, devemos fazer uma reflexão mais aprofundada sobre o óbvio do imaginário popular e iniciar um debate sobre qual é a função social da escola.

Ao iniciar uma reflexão objetivando desvendar a real função social da escola, percebemos que nossa ideia a priori sobre a mesma não parece ser tão incontestável. Devemos lembrar que desde a origem da sociologia a instituição escola tem sido alvo de reflexões e debates, com essência sociológica visando compreender as relações sociais e a organização da sociedade, terão neste assunto uma ótima reflexão acerca do espaço “formador de cidadãos para a vida em sociedade”. 

É importante debater sobre este tema, principalmente porque o ser social permanece um período de tempo considerável neste ambiente, mantendo relações sociais, estudando aspectos culturais considerados importantes por seus precedentes para manter a humanidade não desfazendo-se de sua história, mas querendo que com isso desenvolvamos o futuro. A abrangência de conceitos que podemos extrair da reflexão da escola e sua função social são grandiosas. Para isso neste trabalho vamos fazer uma reflexão acerca do tema. 

Um ponto interessante para iniciar uma reflexão sobre a função social da escola é começar em nosso momento histórico atual e social, parece ser uma tarefa árdua compreender a contemporaneidade da escola, podemos imediatamente identificar que há duas vertentes numa análise deste contexto, os críticos e os positivistas perante a organização atual da escola. Para estudiosos e especialistas das áreas humanas a escola é um termo abstrato, mas certamente podemos ponderar sobre pontos fatuais da mesma, como por exemplo, o dado que a escola pública hoje está voltada fundamentalmente para as crianças das camadas populares. Para os críticos assim como BUENO (2001) ela cumpre o papel de reprodutora das relações sociais e de apoio à manutenção do status quo. 

Também com os críticos podemos encontrar o Sociólogo Ivan Illich, que é considerado um dos mais radicais do campo da educação, fez uma grande provocação para a humanidade com ao escrever o livro Sociedade Sem Escolas. Ivan Illich versava que o direito de aprender é interrompido na obrigatoriedade de frequentar a escola. Conforme, Illich apud in FONSECA (2015) os alunos são escolarizados a confundir ensino com aprendizagem, obtenção de graus com educação com educação, diploma com competência, fluência no falar com capacidade de dizer algo novo. Que também levou Illich afirmar que: 

“Não apenas a educação, mas toda a realidade social tornou-se escolarizada” (ILLICH, 1971, apud in FONSECA).

Esta critica dá-se ao fato de que a função social da escola seria manter justamente o status quo da sociedade capitalista, sendo assim, fazendo com que a população e a sociedade em geral mantendo os mesmos de massa. E assim, a escola serviria, no paradigma atual, para justificar a diferenciação social. Continuando com o pensamento do autor em sua crítica ele afirma que: 

“A maior parte da aprendizagem ocorre casualmente. Mesmo a maior parte da aprendizagem intencional não é resultado de uma instrução programada.” (ILLICH, 1971, apud in FONSECA).

Na visão crítica de Illich, a escola hoje se transformou numa espécie de religião, que faz promessas de salvação, isso podemos observar nas propagandas de várias escolas onde as mesmas falam de “felicidade, esperança, esperança, sucesso e futuro”. E defendendo que quando mais longa a permanência na escola melhores os resultados, assim chancelando um sistema que institui categorias diferenciadas de cidadania pela posse de diplomas. Com isso, o autor afirma que: 

“Escolaridade não promove nem a aprendizagem nem a justiça, porque os educadores insistem em embrulhar a instrução com diploma.” (ILLICH, 1971, apud in FONSECA). 

A postura crítica na visão da escola hoje, foi claramente observada no pensamento de Bueno com adendo da postura de Illich na visão crítica da escola, a óptica crítica da instituição escola, consiste em querer romper paradigmas sociais impostos que mantem a sociedade organizada da mesma forma que está há muito tempo, utilizando-se de um falso dilema entre escolarizados e não escolarizados e utilizando-se da instrução escolar como justificativa para as diferenças sociais. Também para BUENO (2001), a escola hoje é a ampliação e universalização do acesso ao ensino obrigatório no país, tornando assim uma escola de massas. Assim, com o acesso rápido e massivo das pessoas à escola e por falta de uma política educacional que privilegiasse a qualidade de ensino. 

Mas, também podemos encontrar uma visão mais positivista da escola, os positivistas tem a característica de pensar que a escola é um espaço de ensino do conhecimento técnico/científico e que a escola aborda de forma a cientificidade para o ensino das disciplinas no ensino. A postura positivista foi fundada por Augusto Comte, pela expressa confiança nos benefícios da industrialização, no otimismo em relação ao progresso capitalista, no culto à ciência e a valorização do método científico, voltados a uma reforma intelectual da sociedade. (COTRIM, 1993, p. 189 apud in OLIVEIRA). Neste aspecto a postura positivista considera que a escola, conforme é organizada hoje está coerente com uma visão de transmissão do conhecimento científico mínimo para o cidadão, para que o mesmo possa se desenvolver e viver em sociedade em busca de seu progresso. 

Na perspectiva positivista a escola deve ser um local para a apropriação da cultura historicamente e cientificamente adquirida, no aspecto do acesso à cultura, identifica-se que é extremamente importante para que as pessoas tenham acesso à mesma. Aliás, a organização social vigente deve-se de desenvolvimentos e acontecimentos históricos específicos que o aluno tendo conhecimento dos mesmos vai conseguir localizar-se em seu momento sócio histórico. Podemos ponderar conforme (SANTA CATARINA, 2014) uma formação integral do cidadão supõe considerar e reconhecer o ser humano como sujeito que produz, por meio do trabalho, as condições de (re)produção da vida, modificando os lugares e os territórios de viver, revelando relações sociais, políticas, econômicas, culturais e socioambientais. Assim, na proposta do Estado de Santa Catarina podemos observar que: 

“(...) Os espaços de formação podem/devem se converter em lócus de socialização de saberes, de estudo organizado dos acontecimentos, de iniciação à pesquisa e de incentivo à leitura científica do mundo(...)” (SANTA CATARINA, p.26, 2014) 

A escola pode, através do uso da interdisciplinaridade, fazer um debate cultural e científico com seus alunos, assim propiciando um melhor entendimento do contexto social/cultural, contribuindo deste modo para a formação de um cidadão com uma posicionamento compreensivo a respeito das relações, inclusive, neste momento cabe à inclusão social de pessoas portadoras de deficiências, assim contribuindo para o rompimento de preconceitos dos cidadãos e um convívio mais humanístico em sociedade. 

É possível observar que as escolas mesmo respondendo à políticas públicas elas tem uma certa autonomia na elaboração de seu plano político pedagógico, assim como BUENO (2001) nos recorda que escola possui um espaço de autonomia que lhe permite, dentro de limites, se constituir em frente de resistência aos processos de seletividade e de exclusão oriundos das políticas educacionais. Assim, elas conseguem no que consideram importante favorecem o acesso à cultura e induzem a um processo de formação de cidadania, visando manter uma sociedade coesa e organizada. 

Muito interessante é elencarmos como a função social da escola é vista em cada óptica de maneira diferente, para os críticos a escola apenas mantém o status quo da realidade social em detrimento de sua atividade afirmando que a metodologia utilizada para o ensino e consentimento de graus de ensino fomentam uma justificativa para a desigualdade social. Já na óptica positivista, considera a organização social atual, ou seja, a capitalista como bem sucedida e a escola deve ser organizada para a transmissão do conhecimento técnico/científico para manter a mesma num processo de autocorreção. 

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (LUXEMBURGO, Rosa)


REFERÊNCIAS

BUENO, José Geraldo Silveira. Função social da escola e organização do trabalho pedagógico. Educar, Curitiba. Editora da UFPR, 2001.

FONSECA, Andre Azevedo Da. Série Completa: Sociedade sem Escolas, de Ivan Illich. 2015. Canal Prof. André Azevedo da Fonsceca. Disponível em: <https://www.youtube.com/playlist?list=PL0k4OibqI6p4HQ7DH0vaxY3LCYgwhgia9>. Acesso em: 01 Dez 2015.

OLIVEIRA, Claudemir Gonçalves De. A matriz positivista na educação Brasileira: uma análise das portas de entrada no período republicano. 2010 Diálogos Acadêmicos: Revista Eletrônica da Semar/Unicastelo. Disponível em: http://www.uniesp.edu.br/fnsa/revista/downloads/edicao1/artigo-claudemir-goncalves-de-oliveira.pdf Acesso em: 01 Dez 2015

SANTA CATARINA, Governo do Estado, Secretaria de Estado da Educação. Proposta Curricular de Santa Catarina. Formação integral na educação básica. Secretaria de Estado da Educação, 2014. Disponível em: http://www.propostacurricular.sed.sc.gov.br/site/Proposta_Curricular_final.pdf Acesso em: 01 Dez 2015.

2 comentários:

  1. Pensar na escola somente como transmissão de conhecimentos já é um grande equívoco por parte dos próprios "criadores" do sistema educacional, tão quanto o professor pensar que a educação, conhecimento só se adquire dentro da sala de aula como fomenta o texto. Integrar é quão importante quanto interdisciplinarizar no sentido de juntar diferentes ideias,pessoas, não só para tratar de uma disciplina específica pois, como podemos entender sobre essa análise, o conhecimento se dá na troca de experiências,novas ideias,pensamentos, e respeitando a cultura dos povos,as dificuldades da política pré-estabelecida de cada lugar ao mesmo tempo buscando melhorá-la para suprir as necessidades e eliminar as deficiências do nosso sistema educacional.

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    1. Perfeitamente Marcony, a escola não deve ser vista como "transmissora" do conhecimento, mas sim como, propiciadora das formas para chegar-se ao conhecimento científico/histórico/cultural, numa perspectiva a considerar o mesmo de uma maneira existencialista e humanista. Não apenas como reprodutora das relações sociais para manter o status quo de nossa sociedade capitalista.

      Procurando nos PCN's (Planos Curriculares Nacionais), vemos claramente que o nosso sistema educacional é preparatório para o mercado de trabalho. Deveríamos, pelo contrário, fazer com que o sistema educacional auxilia-se o aluno no seu processo de emancipação.

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